O mercado deve caminhar para a precificação de uma taxa
Selic menor na curva de juros apesar dos sinais de cautela do Banco Central e
da incerteza com as contas públicas, segundo investidores.
O sócio e economista-chefe da BlueLine Asset Management,
Fabio Akira, diz que o mercado “vai se empolgar” e apostar numa taxa de juros
final de ciclo abaixo de 9% – ele está posicionado para capturar esse
movimento, embora projete patamar maior, de 9,5%.
Na reunião passada, o Copom cortou a Selic em 0,50 ponto
percentual, para 13,25%, e pegou uma parte dos investidores de surpresa – o BC
deve repetir a dose de alívio nesta semana. “Isso faz com que os agentes
apostem numa política monetária neutra, apesar de o BC estar falando o
contrário”, afirma Akira.
Tatiana Pinheiro, economista-chefe de Brasil da Galapagos
Capital, vê um juro básico de 8% ao fim do ciclo e projeta que o BC deve
acelerar o ritmo no ano que vem, na expectativa de uma melhora da situação
fiscal. “Deve estar claro para a equipe econômica que eles têm de adequar o
Orçamento para mais próximo da realidade.”
Já Paula Moreno, sócia e co-gestora da Apex Capital, vê
exagero na precificação atual da curva de juros, que está em cerca de 9,4% para
o fim de 2024, e aposta nas ações brasileiras. “A bolsa está muito descontada.”
Uma visão consensual entre os analistas é de que a
inclinação da curva de juros – o diferencial entre taxas de curto e de longo
prazo – deve aumentar, conforme o Copom promove cortes de juros e o cenário
fiscal segue como fator de risco.
A inclinação da curva de juros doméstica já tem se ampliado
recentemente, um movimento também explicado pelo aumento dos yields americanos.
O diferencial entre as taxas do DI para janeiro de 2031 e janeiro de 2025 hoje
se encontra em mais de 80 pontos-base.
Para eles, a expectativa de inflação não cede mais em razão
das dúvidas sobre a composição do Copom.
Nesta edição do ‘Café com Mercado’ ? onde especialistas do
mercado conversam sobre o cenário dos ativos domésticos durante um café da
manhã no escritório da Bloomberg, em São Paulo:
Paula Moreno, sócia e gestora da Apex CapitalTatiana
Pinheiro, economista-chefe de Brasil da Galapagos CapitalFabio Akira, sócio e
economista-chefe da BlueLine Asset Management
O ponto final da Selic
Fabio Akira, da BlueLine, afirma que o movimento do mercado
rumo a uma taxa terminal abaixo de 9% já está começando. Para ele, ?o mercado
vai ignorar o sinal de comunicação do BC? de que o juro se manterá restritivo. “Você tem que começar a apostar que o Copom vai pelo menos por o juro no neutro
para valer a pena aplicar”, diz Akira.
Ele projeta a Selic final acima disso, em 9,5%, mas está
posicionado taticamente para capturar o movimento de precificação do mercado.
Tatiana, da Galapagos Capital, prevê uma taxa terminal de 8%
em 2024, com a expectativa de que haverá uma solução fiscal. Ela cita possíveis
caminhos em revisão de subvenções e subsídios. “Se ocorrer um ajuste fiscal
para aproximar o Orçamento de maneira crível da realidade fiscal, o BC tem
espaço” para neutralizar a política monetária, segundo ela.
Já Paula, da Apex, prevê 9,75% e avalia que uma taxa menor
será precificada na curva apenas se o dólar voltar a cair ao nível de R$ 4,70. “A nuvem que sempre vai estar assombrando é o fiscal, então, a 9,20% de Selic
terminal, já tem muita coisa bem precificada e acho uma posição arriscada”,
diz.
Curva inclinada
“Temos bastante convicção” na posição de inclinação da
curva, diz Tatiana, da Galapagos. “A gente tem uma expectativa de corte de
juros maior e acha que o mercado vai reagir bastante com relação a esse debate
fiscal.”
Para Paula, da Apex Capital, a tendência é que a ponta longa
da curva de juros seja impulsionada também com a dinâmica do juro americano. “A
curva longa vai depender muito dos EUA, e a impressão que tenho é que as curvas
lá fora vão seguir inclinando” com desaceleração da economia americana ao longo
de 2024, afirma.
Além de yields maiores lá fora, a postura mais ?tomadora de
risco inflacionário?, com a possibilidade de o BC testar até mesmo um juro
expansionista, também levaria a uma maior inclinação da curva, afirma Akira.
Mudanças no Copom
As incertezas com as mudanças na diretoria do BC contribuem
para desancorar as expectativas para a inflação, dizem os analistas. “Não só
pelas dúvidas de quem vai entrar, mas porque a gente sabe que quem vai sair
tinha uma postura mais hawk”, diz Akira. “Isso vale um prêmio de expectativa.”
Paula, da Apex, avalia que as expectativas seguirão altas
com os ventos contrários vindos da situação fiscal. “E, claramente, vai ter
esse risco proveniente de mudança de composição” do Copom, diz ela, que vê
atratividade em comprar inflação implícita nos títulos públicos com base em
nesse cenário.
“O viés do governo é para perfis de diretores que muito
provavelmente são mais dovish”, diz Tatiana, da Galapagos. “Mas o decisivo é a
mudança da presidência do Banco Central no fim de 2024: esse evento pode mudar
permanentemente” a autoridade monetária, afirma.
Apostas
Apex: comprada em bolsa, com preferência por petróleo,
mineração, bancos e utilities; hedge em inflação implícita; vendida em
euroBlueLine: aplicado em juros na parte curta e média da curva no Brasil e
Reino Unido; tomado na curva longa dos EUA; neutro em dólar, comprado em real e
peso mexicano contra moedas da Ásia e euroGalapagos: posicionada em inclinação
da curva no trecho 2025-2029; aplicado em juros nos EUA.
–Com a colaboração de Leda Alvim.