Com apenas oito meses de trabalho na Câmara, deputados recém-chegados ao Legislativo federal já se voltam para a próxima disputa eleitoral, que ocorre daqui a menos de um ano.
Emendar uma eleição na outra, conforme o Estadão, está no radar de 18 deputados que mal assumiram o mandato de deputado federal e já cogitam abandonar o cargo e suas promessas de campanha para disputar uma vaga de prefeito. Na relação da reportagem consta apenas Sargento Isidório do Avante na disputa pela prefeitura de Salvador, mas essa lista pode ser mais extensa, com nomes como o da deputada Lídice da Mata (PSB) e Antonio Brito (PSD), que se encaixam como “veteranos” da Casa Baixa.
Os estreantes são quase metade dos 38 deputados identificados pela reportagem como pré-candidatos em 20 capitais do País. Eles negam que a movimentação pré-eleitoral prejudique o exercício da função para a qual pediram votos e dinheiro público em 2022. Dos 18 pré-candidatos para o ano que vem, 15 usaram R$ 17,9 milhões do Fundão Eleitoral no ano passado.
A exposição e a estrutura do cargo de deputado ajudam nas chances de vitória nos municípios. E em caso de derrota, não há nenhum prejuízo ao mandato a ser administrado.
Na última eleição, o então candidato Guilherme Boulos (PSOL-SP) dizia que precisava fazer no Congresso a mesma militância que realizava em favor do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). ?Quero ser deputado para fazer esse enfrentamento lá, no espaço de poder?, disse, em um vídeo de campanha.
Além do pleito por moradias populares, Boulos também pedia votos dizendo que queria vir a Brasília lutar contra um “Congresso vendido”. “Você sabe por que eu quero ser deputado? Porque nunca o Congresso Nacional teve tanta importância como tem hoje”, frisava. Nos primeiros meses de mandato, apresentou 18 projetos de lei e três propostas para alterar a Constituição.
Mas já no primeiro ano do mandato que conquistou como o mais votado de São Paulo, ele se articula, com agendas públicas e privadas, para tentar virar prefeito da capital paulista. No início de agosto, seis meses após tomar posse na Câmara e dez meses depois da vitória nas urnas, Boulos foi a estrela de um evento no qual o PT anunciou o apoio a ele nas eleições de 2024. Boulos pretende ser o principal rival do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
A deputada delegada Adriana Accorsi (PT-GO) é pré-candidata à Prefeitura de Goiânia, após ficar em 3º lugar em 2020. No ano passado, a então deputada estadual organizou uma “vaquinha” para chegar à Câmara e convocou seus eleitores para uma “caminhada pela justiça social, para reconstruir o Brasil”.
“Estamos começando nossa vaquinha eleitoral. Quero contar com a sua contribuição para minha pré-candidatura a deputada federal”, afirmou em vídeo publicado nas redes sociais.
Accorsi recebeu um total de R$ 1,1 milhão em recursos durante a corrida eleitoral de 2022. Do total, 94% saíram do Fundo Eleitoral de Campanha – verba pública usada pelos partidos para bancar as campanhas dos candidatos. A deputada arrecadou R$ 26,2 mil na “vaquinha”, segundo a prestação de contas apresentada ao TSE.
Em outra publicação nas redes sociais, Accorsi disse que levaria ao Congresso uma “incansável luta por nossas mulheres e meninas”. Durante a campanha, a delegada chegou a participar de um debate sobre a necessidade de haver mais mulheres na política. Se for eleita prefeita de Goiânia, a deputada deverá ser substituída por um parlamentar homem. Ela apresentou 13 projetos de lei e uma Proposta de Emenda à Constituição – nenhuma aprovada pela Casa Legislativa até agora.
O PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem ao menos seis parlamentares em primeiro mandato cotados para disputar prefeituras das capitais. Mais votado do Mato Grosso do Sul, Marcos Pollon (PL) fez a campanha à Câmara totalmente atrelado à pauta armamentista, em especial em defesa dos CACs (Colecionadores de armas de fogo, Atiradores esportivos e Caçadores).
Ele dizia querer representar o segmento em Brasília para trabalhar uma legislação que facilitasse o acesso a armas de fogo. “A legislação precisa ser cristalina em favor da pauta armamentista, pois infelizmente os desarmamentistas buscam brechas nas interpretações judiciais para promover o controle do acesso às armas”, afirmou. “Somente com legisladores convictos conseguiremos mudar essa realidade”.
Agora, ele tenta se viabilizar como o candidato da direita na disputa pela prefeitura de Campo Grande (MS). Se eleito prefeito, Pollon não terá atribuição constitucional de alterar ou criar leis pró-armas.
É a mesma situação do colega de Câmara e de partido, deputado Sargento Gonçalves (PL-RN). Durante a campanha para a Câmara, Gonçalves disse que era uma “necessidade urgente” ter representantes em Brasília comprometidos com a pauta armamentista. Menos de um ano depois, o político já se colocou à disposição do partido para concorrer a prefeito de Natal (RN).
Quem são os deputados pré-candidatos nas capitais:
Belo Horizonte (MG): Duda Salabert (PDT, 1º mandato), Pedro Aihara (Patriota, 1º mandato) e Rogério Corrêa (PT)
Boa Vista (RR): Nicoletti (União Brasil) e Zé Haroldo Cathedral (PSD, 1º mandato)
Campo Grande (MS): Marcos Pollon (PL, 1º mandato) e Beto Pereira (PSDB)
Cuiabá (MT): Abílio Brunini (PL, 1º mandato)
Curitiba (PR): Beto Richa (PSDB, 1º mandato), Carol Dartora (PT, 1º mandato) e Luciano Ducci (PSB)
Fortaleza (CE): André Fernandes (PL, 1º mandato)
Goiânia (GO): Gustavo Gayer (PL, 1º mandato) e Adriana Accorsi (PT, 1º mandato)
João Pessoa (PB): Ruy Carneiro (Podemos)
Manaus (AM): Amom Mandel (Cidadania, 1º mandato)
Natal (RN): General Girão (PL), Natália Bonavides (PT) e Sargento Gonçalves (PL, 1º mandato)
Palmas (TO): Eli Borges (PL), Ricardo Ayres (Republicanos, 1º mandato) e Filipe Martins (PL)
Porto Alegre (RS): Fernanda Melchionna (PSOL) e Maria do Rosário (PT)
Porto Velho (RO): Fernando Máximo (União Brasil, 1º mandato)
Recife (PE): Tulio Gadelha (Rede)
Rio Branco (AC): Antônia Lucia (Republicanos)
Rio de Janeiro (RJ): Tarcísio Motta (PSOL, 1º mandato), Alexandre Ramagem (PL, 1ºmandato), Otoni de Paula (MDB) e Dr. Luizinho (PP)
Salvador (BA): Sargento Isidoro (Avante)
São Luís (MA): Duarte Júnior (PSB, 1º mandato)
São Paulo (SP): Guilherme Boulos (PSOL, 1º mandato), Tábata Amaral (PSB) e Kim Kataguiri (União Brasil)
Teresina (PI): Marcos Aurélio Sampaio (PSD)
(bahia.ba)
Foto: Mateus Morais – bahia.ba