Lula recebe ligação de Maduro e diz que é preciso evitar escalada com Guiana

O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) recebeu uma ligação, na manhã deste sábado (9/12), de Nicolás
Maduro, presidente venezuelano. Os dois líderes latinos conversaram,
principalmente, sobre a tensão entre Venezuela e Guiana devido ao território de
Essequibo.

Maduro ameaça tomar a região de
Essequibo, que corresponde a mais da metade do território guianês e abriga
enormes reservas de petróleo. Mesmo sendo simpático ao líder venezuelano, Lula
transmitiu uma “crescente preocupação” em relação à situação.

O petista lembrou Maduro dos
termos da declaração sobre o assunto aprovada na Cúpula do Mercosul e assinada
por Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina, Colômbia, Peru, Equador e Chile, e
recordou a longa tradição de diálogo na América Latina e que somos “uma região
de paz”.

O Palácio do Planalto informou
que Lula fez um chamado ao diálogo e sugeriu que o presidente de turno da
Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), Ralph Gonsalves,
trate do tema com os governos de Venezuela e Guiana. O presidente reiterou que
o Brasil está à disposição para apoiar e acompanhar essas iniciativas.

No telefone com Maduro, Lula
ressaltou que é “importante evitar medidas unilaterais que levem a uma escalada
da situação”.

Receio de uma escalada na
tensão entre Venezuela e Guiana

O telefone entre Lula e Maduro
ocorre um dia após o brasileiro demonstrar preocupação com a situação das
fronteiras com Venezuela e Guiana, durante conversa com o ministro da Defesa,
José Múcio Monteiro, no Palácio da Alvorada.

A orientação definida pelo
Planalto é que as Forças Armadas redobrem os cuidados dos acessos ao território
brasileiro – o país faz fronteira direta com Venezuela e Guiana.

“Estamos atentos para que
não sejamos instrumento de um incidente diplomático”, declarou José Múcio
a jornalistas que o aguardavam na saída do ministério, antes de se reunir com
Lula.

“Nossa missão é cuidar de
todas as fronteiras, do Rio Grande do Sul a Roraima. Agora, a tensão está na
fronteira norte, e é lá que estão as nossas atenções”, frisou o ministro.
Segundo ele, o presidente acompanha com atenção a crise dos vizinhos. “Quem está à frente disso é a diplomacia, nós (da Defesa) estamos
preocupados em reforçar nossa presença (na fronteira)”.

A primeira medida efetiva foi
confirmada, na sexta-feira (8/12), pelo comando do Exército. O 12° Esquadrão de
Cavalaria Mecanizado, responsável pelos veículos blindados que atuam na
fronteira norte, vai ficar três vezes maior.

A unidade, sediada em Boa Vista,
está em processo de transformação para virar o 18° Regimento de Cavalaria
Mecanizado, uma ampliação prevista desde 2009, mas que só seria plenamente
efetivada em 2025, com recursos que constam do Plano Estratégico da Força para
o triênio 2020/2023.

Segundo o Estado-Maior do
Exército, o processo de implantação do novo regimento, que contará com 600
militares divididos em três esquadrões, “foi efetivado neste mês como
resposta natural à atual conjuntura geopolítica da fronteira norte”, em referência
à crise entre Venezuela e Guiana.

Como primeiro reforço, 16
veículos blindados Guaicurus estão sendo deslocados de unidades do Sul e do
Centro-Oeste para Boa Vista e Pacaraima, na fronteira venezuelana, e mais uma
dezena deve ser enviada nos próximos dias. Os blindados podem transportar metralhadoras
e mísseis, “fornecendo poder de fogo em missões de reconhecimento”,
segundo informou o Exército. O reforço militar na fronteira norte é preventivo,
para o caso de acirramento das tensões. (Pedro Grigori-Correio Brasiliense)

Foto: EVARISTO SA/AFP