BC: equilíbrio de contas públicas é importante para queda da inflação

O Comitê de Política Monetária
(Copom) do Banco Central (BC) reforçou a importância do cumprimento da política
fiscal do governo para equilíbrio das contas públicas e consequente queda da
inflação. As expectativas de inflação acima da meta preocupam o BC e é um fator
que impacta a decisão do BC sobre a taxa básica de juros, a Selic.

Para os membros do colegiado, em
reunião na semana passada, a redução das expectativas requer o contínuo
fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições públicas
como dos arcabouços fiscal e monetário, que compõem a política econômica
brasileira.

“Com relação ao cenário fiscal,
tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas
para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a
condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme
persecução dessas metas”, diz a ata da reunião, divulgada nesta terça-feira
(19) pelo BC.

“O Comitê reforçou a visão de que
o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o
aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida
pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com
impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente,
sobre o custo de desinflação em termos de atividade”, acrescenta o documento.

A taxa neutra é aquela que nem
estimula, nem desestimula a economia, ou seja, é a taxa de juros real
consistente para manter o nível de atividade econômica, com o fomento ao pleno
emprego e a inflação na meta.

Quando o BC quer conter a demanda
aquecida e frear a inflação, ele aumenta a taxa básica de juros para uma
posição acima do juro neutro. Já para incentivar a produção e o consumo, o
Copom diminui a Selic. Em caso de economia estável, com a inflação no centro da
meta, a Selic tende a ficar próxima da taxa neutra. Então, quanto maior for o
juro neutro, maior será a Selic.

De acordo com o último Relatório
de Inflação da instituição financeira, a média da taxa de juros real neutra
está em 4,8%, com intervalo entre 4,5% e 5%.

O comitê relembrou que não há
relação mecânica desses fatores com a política monetária mas as variáveis, como
a dinâmica fiscal ou o cenário externo, podem alterar as expectativas de
mercado, fator que impacta a decisão do BC sobre os juros.

?Houve um progresso
desinflacionário relevante, em linha com o antecipado pelo comitê, mas ainda há
um caminho longo a percorrer para a ancoragem das expectativas e o retorno da
inflação à meta, o que exige serenidade e moderação na condução da política monetária?,
diz a ata.

Taxa Selic

Na semana passada, o Copom
decidiu reduzir a taxa Selic, de 12,25% ao ano para 11,75% ao ano. O
comportamento dos preços fez o BC cortar os juros pela quarta vez no semestre,
em um ciclo que deve seguir com cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões.
Após sucessivas quedas no fim do primeiro semestre, a inflação voltou a subir
na segunda metade do ano, mas essa alta era esperada por economistas.

A taxa Selic é o principal
instrumento de BC para alcançar a meta de inflação, definida pelo Conselho
Monetário Nacional (CMN). A autarquia não adiantou quando parará de reduzir a
Selic e informou que o momento dependerá do comportamento da inflação no primeiro
semestre de 2024.

?A magnitude total do ciclo de
flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica
inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária
e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas
de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço
de riscos?, diz a ata.

?O comitê reforça a necessidade
de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide
não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas
em torno de suas metas?, afirmou o colegiado.

Para o BC, a decisão é compatível
com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta para 2024 e o
de 2025.

A meta definida pelo Conselho
Monetário Nacional para os próximos dois anos é de 3%, com intervalo de
tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite
inferior é 1,75% e o superior 4,75%.

Na ocasião, as expectativas de
inflação para 2024 e 2025 estavam em torno de 3,9% e 3,5%, respectivamente. Os
dados são do boletim Focus, pesquisa divulgada semanalmente pelo BC com a
projeção de analistas do mercado para os principais indicadores econômicos.

Em novembro, o aumento de preços
dos alimentos pressionou o resultado da inflação. O IPCA ficou em 0,28%,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O percentual
foi maior que a taxa de setembro, que teve alta de 0,24%.

A inflação acumulada este ano
atingiu 4,04%. Nos últimos 12 meses, o índice está em 4,68%.

Atividade econômica

O Copom ainda avaliou um conjunto
de indicadores recentes que indica o cenário de desaceleração da economia, como
era esperado com a manutenção da Selic em alta por tempo prolongado. “A
divulgação do PIB [Produto Interno Bruto ? a soma de todos os bens e serviços
produzidos no país] do terceiro trimestre confirmou a moderação de crescimento
que estava antecipada, mas com resiliência no consumo das famílias. O mercado
de trabalho segue aquecido, mas apresenta alguma moderação na margem”, diz a
ata.

Superando as projeções, no
terceiro trimestre do ano a economia brasileira cresceu 0,1%, na comparação com
o segundo trimestre de 2023, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE). Entre janeiro e setembro, a alta acumulada foi de 3,2%.

Pra o BC, a resiliência do
consumo das famílias pode estar relacionada a um aumento da renda bruta em
função da expansão do mercado de trabalho, de benefícios sociais e de ganhos de
renda relacionados à queda da inflação em importantes segmentos da cesta de
consumo. Por outro lado, a formação bruta em capital fixo (investimentos das
empresas), que é mais sensível às condições financeiras e às perspectivas e
incertezas futuras, segue em queda, após uma forte elevação ao longo do período
da pandemia.

“Alguns membros avaliaram que a
persistência de uma conjunção de maior resiliência do consumo e queda no
investimento poderia provocar, no médio prazo, um excesso de demanda em relação
à oferta, com potenciais impactos sobre preços”, destacou o BC.

A autarquia também observa uma
maior desaceleração na concessão de crédito às empresas. De acordo com a ata,
mesmo com as condições monetárias restritivas, já é possível observar a
transmissão do ciclo de política monetária esperada pelo mercado, de redução
dos juros básico, para as taxas correntes de novas concessões de crédito,
levando, em particular, a um maior dinamismo no mercado de capitais no período
recente. (Agencia Brasil).

Foto: Marcello Casal Jr/Agencia Brasil