Empreiteiro diz que pagou [comissão] de US$ 120 mi a lobista

O empresário Gerson de
Mello Almada, um dos donos da Engevix Engenharia, afirmou à Polícia Federal que
acertou o pagamento de US$ 120 milhões para o lobista Milton Pascowitch nas
negociações do contrato de construção dos cascos das primeiras oito plataformas
com conteúdo nacional para a Petrobras, montados no Estaleiro Rio Grande, no
Rio Grande do Sul – um contrato no valor total de US$ 3,4 bilhões.

Pascowitch é apontado
pela força-tarefa da Operação Lava Jato como operador de propinas em nome da
Engevix na Diretoria de Serviços da estatal – que era controlada pelo PT. Ele
cumpre prisão preventiva.

[A fim de viabilizar o
negócio foram firmados contratos com a Jamp de Milton Pascowitch, no valor
aproximado de R$ 120 milhões], contou Almada em depoimento à PF em 24 de março.
[Parte desse valor, US$ 10 milhões, foi pago mediante outro contrato com uma empresa
internacional vinculada a Milton, de nome MJ2 Internacional.]

Na transcrição do
depoimento de Almada, a PF registrou inicialmente a cifra em reais (R$ 120
milhões). Mas, por extenso, anotou o valor em dólares.

Almada diz que [os
contratos com Pascowitch eram feitos de forma periódica e de acordo com o
recebimento das parcelas e não de forma global a partir do valor total desse contrato
dos navios Replicantes].

O primeiro casco das
plataformas tipo FPSOs (sigla em inglês para unidade flutuante de produção,
armazenamento e transferência de óleo) Replicantes foi entregue em dezembro do
ano passado para montagem da P-66 – no Estaleiro BrasFels, em Angra -, e
entrará em operação em 2016, no Campo de Lula (BM-S-11), na Bacia de Santos. As
outras plataformas cujos cascos serão entregues pelo Estaleiro Rio Grande são:
P-67, P-68, P-69, P-70 e P-71.

Pascowitch foi apontado
pelo ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco como pagador de
propina da Engevix, no esquema da área de Serviços.

Espécie de contador do
dinheiro que chegava em malas, mochilas e pacotes, inclusive na sede da
estatal, no Rio, Barusco disse que ele, o ex-diretor Renato Duque e o PT foram
beneficiários de 1 do valor do contrato de oito cascos de plataformas.

A confirmação de um dos
sócios da Engevix no depoimento à PF, além de envolver valor superior ao citado
por Barusco, reforça as suspeitas da força-tarefa da Lava Jato de que o esquema
sistematizado de corrupção em obras de refinarias foi espelhado nos contratos
do pré-sal. Empresas do cartel pagavam propinas que iam de 1 a 3 do valor dos
contratos a agentes públicos, partidos e políticos, sob comando de PT, PMDB e
PP.

Uma das frentes dessa
apuração no pré-sal envolve a construção do Estaleiro Rio Grande, sua venda, em
2010, e a contratação dos serviços, em dois momentos. Em 2010, para montagem de
plataformas, e em 2011, para a construção de três sondas de exploração de
petróleo, pelo valor de US$ 2,4 bilhões – contratos ainda em execução e com
confissão de propina.

Negócio

A Engevix é sócia
majoritária do estaleiro onde são construídos os cascos (as bases) das
primeiras plataformas tipo FPSOs do projeto Replicantes. Para fechar com a
Petrobras, em 2010, a Engevix comprou o Estaleiro Rio Grande da WTorre por R$
400 milhões – com parte dos recursos vindo do fundo de pensão dos trabalhadores
da Caixa Econômica Federal (Funcef).

[Em um projeto denominado
Replicantes a Petrobras definiu que seria inicialmente licitada a construção do
estaleiro, vencida pela WTorre o qual seria locado pela estatal e utilizado
pela empresa ganhadora da licitação], contou Almada.

 O Estaleiro Rio Grande
foi construído pela WTorre em parceria com a Petrobras, a partir de 2006, por
meio de um contrato indireto com a estatal. O dono da Engevix explicou que a
empreiteira [foi vencedora da licitação, sendo que, posteriormente, veio a adquirir
o estaleiro junto a WTorre].

O pagamento das comissões
ao lobista – que, para a força-tarefa da Lava Jato, são propinas – era lançado
nos balanços como despesas de [contingências] dos contratos, afirmou
Almada.

 Denunciado pela
Procuradoria em dezembro do ano passado, Almada está em prisão domiciliar com
tornozeleira eletrônica desde 28 de abril por decisão do Supremo Tribunal
Federal.(AE)