De novo nas graças do planalto, Renan acerta agenda camarada

Em nova tentativa de superar a crise política, a presidente
Dilma Rousseff vai encampar o pacote de propostas apresentado pelo presidente
do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para reerguer a economia. Para o Palácio
do Planalto, a pauta é a chance que o Executivo tem para montar uma
“agenda positiva” e tentar desviar o foco das ameaças de impeachment.

O pacote foi repassado nesta segunda-feira, 10, por Renan e
aliados aos ministros Joaquim Levy (Fazenda), Nelson Barbosa (Planejamento),
Edinho Silva (Comunicação Social) e Eduardo Braga (Minas e Energia). Ao todo,
são 27 propostas legislativas divididas em três grandes eixos: a melhoria da
proteção social, do equilíbrio fiscal e do ambiente de negócios.

De acordo com senadores da base, a sinalização de apoio às
iniciativas ocorreu por parte de Dilma em reunião com líderes partidários do
Senado, antes de receber líderes e parlamentares da base aliada para um jantar
no Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência. “Aproveitamos o
encontro e a comunicamos das propostas. Ela disse que já havia recebido o
material de Michel Temer (vice-presidente e articulador político do governo) e
que gostou. Ela até marcou um encontro na quinta-feira para dar continuidade
nas conversas”, afirmou ao Estado o líder do PMDB no Senado, Eunício
Oliveira (CE).

O fato de a agenda ter sido sugerida por Renan dá
protagonismo ao presidente do Senado num momento em que o governo precisa dele
para rejeitar a chamada “pauta-bomba” de projetos com aumento de
gastos, isolando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Renan também
é hoje considerado no Planalto como “fiel da balança” para segurar
eventual processo de impeachment de Dilma no Senado.

O presidente do Senado estava afastado do Planalto desde
março, na esteira do seu envolvimento na Operação Lava Jato. Um ministro disse
ao jornal O Estado de S.Paulo que a agenda apresentada por Renan ajuda o
governo a preparar o pós-ajuste. Em mais de uma ocasião, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e dirigentes do PT pediram a Dilma que virasse a página do
ajuste fiscal e começasse a falar do que virá depois.

No jantar, promovido para reaproximar o Planalto do Senado,
Dilma recebeu ontem à noite no Alvorada 43 senadores e líderes da base do
Senado e 21 ministros. No encontro, que durou cerca de quatro horas, a
presidente apelou aos senadores para ajudá-la na votação de propostas de
interesse do País.

Dilma não falou diretamente da atuação de Cunha, que rompeu
com o governo há três semanas após ser citado em delação premiada na Lava Jato
e impôs na semana passada duras derrotas ao Planalto. Renan não foi ao encontro
– ele esteve com Dilma na quinta-feira passada.

“Ela pediu que os senadores ajudassem a Nação
brasileira a superar este momento difícil, que prejudica a todos, não apenas ao
governo”, contou o senador José Pimentel (PT-CE) após o jantar.

Agenda

Entre as medidas apresentadas no pacote de Renan está a
aprovação de uma proposta que vincula a política de desonerações da folha de
pagamento de empresas ao cumprimento de metas ou de preservação de emprego.
Essa foi uma das medidas que mais agradaram ao Planalto. Auxiliares da
presidente dizem temer que o projeto feito para rever as desonerações da folha
das empresas última etapa do ajuste fiscal, aumente as demissões.

Os projetos sugeridos também preveem um novo modelo de
financiamento do Sistema Público de Saúde (SUS), além da realização de duas
reformas tributárias: uma envolvendo o ICMS e outra do PIS/Cofins. “Vamos
apreciar todos os pontos do ajuste dentro dessa lógica da agenda”, afirmou
Renan. (Diário do Poder) (colaboraram Isadora Peron e Lorenna Rodrigues)

(FOTO: JANE DE ARAÚJO/AG SENADO)