Ruas não roncam e Dilma ganha fôlego

Se os protestos deste domingo (16) serviriam como termômetro
para o sucesso do roteiro de impeachment de Dilma, este resfriou. O fato é que
as ruas não roncaram. Para que as ruas sinalizassem nessa direção, teria sido
necessário um movimento igual ou maior do que o de março. Algo que deixasse no
ar um rastro de desobediência civil. De transbordamento. Nada disso se viu nos
protestos anti-Dilma pelo Brasil afora, embora os grupos organizados que foram
às ruas tenham dado uma demonstração de força.

Foi mais um bem-sucedido flash mob do que um protesto capaz
de abalar os alicerces da República.

Estive no Rio de Janeiro na manifestação da orla de
Copacabana. Por volta do meio-dia o que havia ali era uma multidão que se
espraiava do posto 4 ao 5 em uma das pistas, algo como um quilômetro de
asfalto. Umas cinco mil ou seis mil pessoas, talvez. Saindo de lá algumas
centenas de metros e a manifestação desaparecia ? não empolgou a cidade nem
sequer a própria orla de Copacabana ou outros pontos de aglomeração de gente na
zona sul como o Aterro do Flamengo. Fora do burburinho do posto 4 à beira-mar,
quase ninguém vestia a camiseta da seleção brasileira ou portava bandeiras e
cartazes. É muito pouco para um impeachment.

Que existe uma insatisfação generalizada em relação a Dilma
é evidente e todas as pesquisas mostram isso. Mas esta não se fez presente
massivamente nas ruas no dia 16. Há insatisfações e insatisfações. Os grupos
organizados que saíram às ruas no domingo expressam apenas uma faceta do
desconforto. É uma agenda que parece restrita aquela que se propaga dos
caminhões de som. Não transcende barreiras. Oferece menos do que acusa. É
fechada em si mesma.

Mas não apenas isto. O tão aguardado (pelo mundo político)
domingo 16 foi o desfecho de uma série de acontecimentos na verdade favoráveis
ao governo. E para resumir: as declarações de apoio à estabilidade
institucional vindas de grupos econômicos importantes; as inflexões no Tribunal
Superior Eleitoral e no Tribunal de Contas da União (que prorrogaram  julgamentos com potencial de promover o
encurtamento do mandato presidencial) e a chamada Agenda Brasil do Renan que
flerta com diferentes interesses corporativos.

Os acontecimentos de agosto sugerem, até aqui, que um novo
pacto se desenha e dele as ruas figuram como audiência. Nestes termos o governo
vai atingindo um objetivo imediato: ser ele próprio o fiador da retomada de
algum tipo de estabilidade política, sem a qual fica mais difícil a melhora da
economia.

Com as bolas de cristal espatifadas, porém, ninguém sabe o
que vai acontecer. A imprevisibilidade ainda impera. Expressão disso é a
Operação Lava-Jato, que chegou recentemente a 500 dias de atividade. Espalhando
suas brasas para todo o sistema político e suas conexões econômico-negociais, a
Operação é, na equação toda, fator de grande incerteza. Ou será que alguma
força política se sente navegando em águas seguras?

Superar a crise será como compor um mosaico a muitas mãos.

Por Rogério Jordão | Blog Rogério Jordão