Eduardo Cunha será denunciado. Deputados manterão apoio prometido?

Os principais jornais do país cravaram no início da tarde: o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), será denunciado pelo Ministério
Público Federal por corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo O Globo, a
denúncia a ser apresentada ao Supremo Tribunal Federal tem como base a suspeita
de que ele recebeu US$ 5 milhões em propina do empresário Júlio Camargo, preso
e investigado na Operação Lava Jato.

A denúncia, sempre dada como certa por quem acompanha as
investigações, não é a única má noticia para o deputado. No mesmo dia, o
ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki negou o pedido de sua
defesa para tirar o inquérito que tramita na Justiça do Paraná e enviá-la ao
STF.

É o fim da linha para o presidente da Câmara? Difícil dizer.

Logo que veio à tona o depoimento de Julio Camargo, houve
quem defendesse em público seu afastamento do cargo, mas poucos puxaram o coro.

Dias antes da volta do recesso parlamentar, a maioria dos
líderes de suas bancadas na Câmara havia declarado, em enquete promovida pela
Folha de S.Paulo, ser contra o afastamento do presidente da Casa, mesmo se o
Supremo Tribunal Federal abrisse um processo contra ele.

Na ocasião, o jornal ouviu 20 dos 22 líderes das maiores
bancadas da Câmara. Dez deles se diziam contra o afastamento de Cunha. As
bancadas lideradas por eles somam 294 deputados (57 do plenário), segundo o
jornal.

[Não tem sentença ainda. Pode não dar em nada, e aí como
faz?], disse à época o líder da bancada do PT, Sibá Machado (AC).

A reportagem foi publicada em 2 de agosto. Desde então,
Cunha, que jura ver digitais do Planalto no depoimento de executivo e, por
isso, anunciou o rompimento com o governo, tem debatido o pedido de impeachment
da presidenta Dilma Rousseff com alguns dos principais líderes da oposição. Ele
limpou o terreno para a análise, na Câmara, das contas da presidenta, acusada
de promover pedaladas fiscais (empréstimos extraoficiais de bancos públicos
para pagar benefícios sociais sem repasse do Tesouro) ao limpar a fila de
contas de governos anteriores. Enquanto isso, a Câmara havia conseguido aprovar
projetos que aumentavam os salários de parte do funcionalismo e criavam novos
gastos bilionários para um governo já em dificuldades orçamentárias.

Politicamente, este pode ter sido seu maior erro em seis
meses de gestão.

O esforço para sangrar o governo por meio do orçamento gerou
reações de parte da imprensa, do empresariado e de observadores internacionais,
preocupados com o desmanche do chamado ajuste fiscal ? que poderia custar o
rebaixamento da nota do país pelas agências classificação de risco e uma
turbulência ainda maior no cenário econômico.

A briga e as cotoveladas, perceberam os analistas, começavam
a prejudicar outros interesses. Não se sabe, porém, qual o alcance desses
alertas entre os deputados, parte deles ameaçados pelas consequências ainda
imprevisíveis da Lava Jato.

Na lona, Dilma se aproximou do presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), que entregou ao governo uma agenda de tarefas a serem
cumpridas em troca do armistício. Logo em seguida, o julgamento das contas da
presidenta no TCU foi adiado. O governo ganhava o que mais precisava naquele
momento: tempo.

A provável formalização da denúncia contra Cunha, somada à
postura crítica de parte da imprensa em relação à tese do impeachment, terá
força suficiente para mudar o humor dos líderes que até ontem bancavam o
presidente da Casa?

É preciso acompanhar os próximos movimentos para saber.

Uma coisa é certa: por muito menos, Severino Cavalcanti
renunciou ao cargo e ao mandato. Ele era suspeito de receber propina para
autorizar o funcionamento de um restaurante na Câmara. Para os colegas, a
acusação tornou sua permanência à frente da Câmara [insustentável].

[Todos seremos, muito breve, julgados pelo povo. Para quem
dedicou sua vida à política, esse é o julgamento que conta, a sentença que
importa. Voltarei. O povo me absolverá], disse Severino, na saída do posto, há
quase dez anos.

Severino jamais voltou. Sua aventura como presidente da
Câmara durou sete meses.

Foto: Alex Ferreira /
Câmara dos Deputados

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Pichonelli