Tanto o PT quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
estão convencidos que, caso o Supremo Tribunal Federal aceite a denúncia por
crime de corrupção contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o
peemedebista não terá mais condições de permanecer no cargo. Até lá, porém, a
ordem é manter a cautela, esperar o desenrolar da crise e evitar movimentos
bruscos. Lula não quer que o PT repita agora os erros cometidos no processo da
eleição de Cunha, no início do ano.
A prioridade é aproveitar a chance para recompor a base da
presidente Dilma Rousseff na Câmara. Segundo uma pessoa próxima a Lula, o
ex-presidente não quer derrubar Cunha, [ele quer é que as coisas melhorem].
A estratégia do PT é deixar o protagonismo das ações contra
o peemedebista para outras legendas como o PSOL. O partido não fará acordos
para salvar Cunha mas também rejeita o papel de algoz do adversário e só vai
entrar em campo quando a situação estiver em vias de definição. Mesmo porque
uma série de parlamentares petistas está na mira da Procuradoria-Geral da
República por causa da Lava Jato.
A um interlocutor, Lula comparou a situação com uma roda de
discussão. [O PT não pode querer ganhar na base do grito. Não podemos errar
outra vez], disse o ex-presidente, em referência à fracassada candidatura de
Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência da Câmara.Lula quer que o PT defenda
uma [solução institucional] para Cunha, uma solução que seja [boa para a
Câmara]. O alvo é a enorme base de apoio do peemedebista. O PT aposta que caso
o STF aceite a denúncia, os aliados vão se afastar naturalmente de Cunha e o
governo deve estar pronto para recebê-los.
O presidente do PT, Rui Falcão, disse que a bancada petista
vai se reunir amanhã para discutir o assunto, mas a tendência é aguardar a
análise do Supremo. [Não queremos prejulgar ninguém], disse.
Um dos motivos do discurso é manter a coerência. O PT tem
acusado a oposição de fazer uso político da Lava Jato contra o partido e não
acha que pode repetir a prática contra Cunha. Outro é ganhar tempo para
construir uma candidatura do campo governista capaz de bater a oposição e
reunir a base de Dilma, de preferência em torno de um peemedebista próximo ao vice-presidente,
Michel Temer.
O PT está dividido quanto aos efeitos práticos da denúncia
contra Cunha. Um grupo argumenta que é melhor manter o peemedebista
fragilizado, dependente do governo e mais disposto a colaborar, do que correr o
risco de enfrentar nova eleição para a presidência da Câmara e perder para um
nome da oposição. Outro grupo avalia que, mesmo fragilizado, Cunha não é
confiável, já prometeu outras vezes não retaliar o governo (uma delas quando
anunciou que iria para a oposição) e deve ser afastado. Todos, no entanto, concordam
que a denúncia contra o presidente da Câmara deixou em segundo plano as CPIs do
BNDES e dos Fundos de Pensão, instaladas por Cunha para fustigar o governo e o
PT (AE).
FOTO: INSTITUTO LULA