Moro responde a Dilma e diz que delação é [traição entre criminosos]

O juiz federal Sérgio Moro, que conduz a maior parte dos
processos da Operação Lava-Jato, respondeu na manhã deste sábado a crítica da
presidente Dilma Rousseff sobre o instituto da delação premiada, ferramenta que
vem permitindo à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal revelar crimes
no âmbito da Petrobras e ministérios do governo federal.

Durante palestra na subseção Jabaquara da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), na Zona Sul de São Paulo, Moro defendeu a
colaboração premiada desde que sustentada em provas independentes e
classificou-a como uma [traição entre criminosos].

– Às vezes, as únicas pessoas que podem servir como
testemunhas de crimes são os próprios criminosos. Uma das regras é que tudo o
que o colaborador disser, precisa encontrar prova de colaboração. (…) É
traição? É traição, mas é uma traição entre criminosos. Não se está traindo a
Inconfidência Mineira, não se está traindo a Resistência Francesa – disse o
juiz no encontro com advogados.

Em junho, Dilma disse em entrevista que [não respeitava
delator], ao ser questionada sobre os depoimentos do dono da Construtora UTC,
Ricardo Pessoa, que citou políticos da base aliada de seu governo como
beneficiários de crimes de corrupção. Na ocasião, a presidente citou um
personagem da Inconfidência Mineira para tentar explicar porque não respeitava
delator.

– Tem um personagem que a gente não gosta porque as
professoras nos ensinam a não gostar dele. Ele se chama Joaquim Silvério dos
Reis, o delator. Eu não respeito delator, até porque eu estive presa na
ditadura e sei o que é. Tentaram me transformar em uma delatora. A ditadura
fazia isso com as pessoas presas. Então, não respeito nenhuma fala. Agora, acho
que a Justiça, para ser bem precisa, tem que pegar tudo que ele disse e
investigar, sem exceção – disse, na época.

Silvério dos Reis era um coronel e fazendeiro mineiro no
século XVIII. Crítico dos altos impostos cobrados pela Coroa Portuguesa,
integrou a Inconfidência Mineira, que planejava lutar pela independência do
Brasil. No entanto, diante da possibilidade de ter suas dívidas perdoadas pela
Coroa, ele delatou outros inconfidentes e o movimento foi reprimido. (Agencia O
Globo)

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