Investigados devem permanecer no governo, diz Cardozo

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, saiu em defesa
dos dois ministros investigados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por
suposto recebimento de propina para abastecer campanhas eleitorais: Aloizio
Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Comunicação Social). Questionado se os
dois devem permanecer no governo mesmo após a abertura das apurações pelo
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, Cardozo afirmou que
ainda não há condenação e que não cabe [prejulgamento]. [A presidente
é quem decide a composição de seu ministério a qualquer tempo, então não cabe a
ministro fazer juízo de valor sobre isso. O que posso afirmar é que não há
indicador objetivo que leve à condenação ou ao prejulgamento de ninguém], disse
o ministro, ao deixar o desfile em comemoração ao Sete de Setembro, na
Esplanada dos Ministérios. A reforma ministerial, com corte de dez ministérios,
foi anunciada pela presidente no fim de agosto e deve ser concluída ainda neste
mês. Cardozo disse estar certo de que as investigações provarão que os dois
ministros de Dilma não praticaram crimes. [Tenho absoluta certeza de que não
serão denunciados. Conheço os dois há muitos anos e minha convicção é de que
jamais se envolveriam em qualquer tipo de ato ilícito], disse. Edinho e
Mercadante serão investigados pela PGR e pela Polícia Federal, com supervisão
de Zavascki, por terem sido citados em delação do dono da UTC, Ricardo Pessoa.
Nos depoimentos, o empreiteiro revelou detalhes do esquema de propina para
obtenção de contratos junto à Petrobras e o repasse dos valores a campanhas
políticas. Ele disse ter doado R$ 7,5 milhões para a campanha à reeleição de
Dilma, que teve Edinho Silva como tesoureiro. Mercadante teria recebido da UTC
doação para sua candidatura ao governo de São Paulo em 2010. Após as
investigações, autorizadas pelo STF, o procurador-geral da República pode
solicitar o arquivamento do caso ou oferecer uma denúncia contra os dois
ministros, que neste caso passariam a responder uma ação penal. [Ninguém está condenado,
ninguém está julgado], ressaltou. O ministro da Justiça, que dividiu com os
dois o palanques no desfile desta manhã, disse ter conversado rapidamente com a
presidente Dilma sobre o assunto e tem posição que expressa [a de todos].
Cardozo defendeu a legalidade da campanha da presidente Dilma e ressaltou que a
orientação da petista para o processo eleitoral foi de “absoluta lisura e
absoluto respeito à lei”. [No que diz respeito ao papel do ministro Edinho
na campanha da presidente Dilma Rousseff, tenho absoluta convicção de que foi
respeitador da lei e quaisquer informações no sentido oposto não condizem com a
verdade], afirmou. Sobre Mercadante, o ministro da Justiça afirmou que [sabe de
sua idoneidade]. [Não há nada a se esconder. Tudo se esclarecerá], disse
Cardozo. Além da investigação que recai sobre Edinho, com base em doações
eleitorais para a campanha de 2010, a PGR solicitou apurações sobre campanhas
presidenciais do PT dos anos de 2010 e 2006, também mencionadas por Pessoa. Os
casos foram encaminhados à Justiça Federal do Paraná, pois os nomes citados
pelo delator não possuem foro privilegiado perante o STF. Cardozo destacou que
o Ministério Público quer investigar [várias situações, não só do PT, mas
também da oposição]. (Beatriz Bulla, Gustavo Porto, Tânia Monteiro e Carla
Araújo | Estadão Conteúdo)

Foto: José Cruz/ Agência Brasil