Nardes recomenda rejeição de contas de Dilma ao Congresso

O ministro Augusto Nardes, relator de processo que avalia o
balanço da União, recomendou aos colegas do Tribunal de Contas da União (TCU)
que deem parecer pela rejeição das contas do governo da presidente Dilma
Rousseff em 2014. A proposta consta de documento distribuído por ele aos
gabinetes da corte e obtido pela reportagem. Nardes listou 18 motivações
principais para sugerir a rejeição.

O TCU apreciará na próxima quarta-feira as contas de Dilma.
Os demais ministros vão avaliar se seguem ou não a proposta de Nardes. Eventual
parecer adverso ao Planalto pode desencadear um processo de impeachment da
presidente no Congresso por suposto crime de responsabilidade, patrocinado pela
oposição e setores rebelados da base aliada.

Anualmente, o TCU avalia as contas do governo. O parecer
aprovado em plenário é enviado para julgamento do Congresso, ao qual cabe
reprová-las ou aprová-las. Para formular sua proposta, Nardes se embasou na
análise de técnicos da Secretaria de Macroavaliação Governamental (Semag), que
se debruçaram nos últimos dois meses sobre os argumentos de defesa do governo,
mas não acolheram a maioria deles. O relatório dos auditores diz que em 2014
houve [comprometimento do equilíbrio das contas públicas em razão de irregularidades
graves na gestão fiscal], com inobservância de princípios constitucionais que
regem a administração pública federal, normas que regem a execução do Orçamento
e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Em comunicado enviado aos demais ministros, Nardes explicou
que cabe a reprovação das contas [devido à relevância dos efeitos das
irregularidades relacionadas à execução dos orçamentos, não ilididas pelas
contrarrazões] apresentadas por Dilma. As contas, segundo ele argumentou, [não
estão em condições de serem aprovadas, recomendando-se sua rejeição pelo
Congresso Nacional].

Uma das irregularidades confirmadas são as [pedaladas] fiscais, reveladas em reportagens publicadas pelo jornal
O Estado de S. Paulo a partir de julho de 2014. Essas manobras consistiram em
atrasar recursos do Tesouro Nacional para bancos públicos pagarem despesas
obrigatórias de programas sociais. Com isso, as instituições tiveram de usar
dinheiro próprio para arcar com as obrigações. Para o TCU, a prática configura
que houve empréstimos indevidos dos bancos ao governo, que é seu controlador,
além de ter mascarado resultados do governo em alguns períodos. O TCU pontuou
ainda que esses “empréstimos”, no total de R$ 37,5 milhões, não foram
devidamente registrados pelo governo.

Estratégia

Autoridades do tribunal ouvidas pela reportagem avaliam ser
muito difícil reverter a tendência pela rejeição em plenário, tendo em vista a
análise contundente apresentada pelos técnicos da corte e a posição do relator.
Os ministros devem se reunir às vésperas da apreciação, na quarta-feira que
vem, para discutir uma eventual posição unânime a respeito.

O governo avalia estratégias para atrasar o envio do parecer
ao Congresso, o que inclui eventuais recursos ao próprio TCU ou ao Supremo
Tribunal Federal (STF). Uma delas é pedir o impedimento do relator por suposta
antecipação de voto em entrevistas à imprensa e em palestras país afora.

Nardes elencou 18 motivações principais para sugerir a
rejeição. No documento, sustenta que houve, por exemplo, falhas no registro de
passivos judiciais, da Previdência Social e dos militares; subavaliação de
restos a pagar no montante de R$ 185 bilhões; falhas de avaliação do patrimônio
público, a exemplo de imóveis da União; e deficiências no registro de renúncias
de receita. Em 2014, o governo abriu mão de arrecadação ao conceder incentivos
a vários setores. (AE)