Os ventos mudaram. Mais do que tempestades, prenunciam-se
ciclones. No caso, abalando as colunas do palácio do Planalto e da Câmara dos
Deputados. De repente, tornou-se outra vez
uma possibilidade o impeachment da presidente Dilma. Raios e trovões
adensam-se novamente sobre a Praça dos
Três Poderes, depois de conhecido o teor
da delação premiada feita ao Ministério Público por um ex-funcionário da Petrobrás, auxiliar de Nestor
Cerveró, ex-diretor de assuntos internacionais da empresa, condenado e preso
meses atrás como envolvido na escandalosa compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O prejuízo foi
de 800 milhões de dólares, e segundo a delação, Madame sabia de
tudo, pois presidia o Conselho de
Administração da Petrobrás durante a venda, que
autorizou. A acusação acaba de
ser lida no plenário do Tribunal de Contas da União e servirá para
alimentar o pedido de afastamento de Dilma, a tramitar no Congresso.
Junte-se a essa explosiva situação a não menos pior sorte do
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a
um passo de ser catapultado de suas
funções por decisão do Supremo Tribunal Federal. Seu último ato poderia
ser, como vingança, a aceitação do
pedido de impeachment.
Em 48 horas, tudo mudou. Parece desfeito o acordo entre
Dilma e Cunha para um salvar o mandato do outro, já que a natureza
das coisas prevaleceu
na dinâmica política. À lambança conduzida pelo presidente da Câmara para impedir a sessão do Conselho de
Ética, quinta-feira, juntou-se, na sexta, a nova denúncia contra a presidente
da República, no TCU.
A impressão é de que a chefe do governo acaba de perder o
que lhe restava de sólida base parlamentar, assim como ao representante fluminense
começa a faltar número suficiente de deputados para respaldá-lo.
Estivesse o país vivendo dias normais e dificilmente
chegaríamos a esse ponto de ebulição, mas como evitá-lo em plena crise, com o desemprego se multiplicando, a inflação chegando aos
dois dígitos, os impostos crescendo, os
direitos trabalhistas sendo reduzidos e a corrupção campeando?
Registra-se à vista de todos a rejeição da sociedade às instituições
encarregadas de conduzi-la. Ninguém
acredita mais em partidos políticos, em governos e mesmo em associações civis.
O ensino e a saúde viram-se
criminosamente contingenciados no
orçamento, os serviços públicos permanecem em queda livre, até a natureza
nos castiga. Por que salvar Dilma e Cunha, mesmo diante da evidência de
não serem os únicos responsáveis pelo caos?
FALTA DE AR OU DE TERRA?
Milton Campos era candidato a vice-presidente da República
em1960, viajando com o presidenciável Jânio Quadros por todo o país. O avião
que os conduzia perdeu-se nos céus de
Mato Grosso, o combustível se esgotava e a comitiva se exasperava. A aeromoça aproximou-se do velho professor de
democracia, pálido e sem falar,
perguntando: [Dr.Milton, o senhor está com falta de ar?] Resposta imediata: [Não, minha filha, estou é
com falta de terra…] (Carlos Chagas)