O juiz Sérgio Moro, responsável pelo julgamento das ações da
Lava Jato, disse nesta segunda-feira, 23, que optou não retardar o andamento do
processo das investigações durante o período eleitoral do ano passado, embora tenha
sido criticado por isso. [Eu não vou retardar o andamento do processo por causa
de uma eleição. Durante o período eleitoral, tanto mais se justifica ter o
pleno acesso às informações], explicou, durante o Fórum da Associação Nacional
de Editores de Revistas, na capital paulista. [A democracia e a liberdade
demanda que as coisas públicas sejam tratadas em público], afirmou o
magistrado.
Moro explicou que a própria Constituição brasileira prevê a
publicidade de ações judiciais envolvendo crimes contra a administração
pública, como é o caso dos crimes envolvendo a Petrobras investigados na Lava
Jato desde o ano passado. Moro disse ainda que os jornalistas têm contribuído
para as investigações, muitas vezes lançando informações em primeira mão que
são o pontapé inicial para a investigação da Polícia Federal ou do Ministério
Público.
[Os jornalistas podem chegar primeiro a uma informação que
talvez a polícia demorasse mais para chegar ou talvez não chegasse], disse. O
juiz se disse fã da proteção que se dá à liberdade de imprensa nos Estados
Unidos e afirmou que o Brasil caminha para chegar ao nível norte-americano. [Informação
é poder. Quanto mais você tem informação, mais você pulveriza o poder],
declarou. [Tem uma frase de um juiz americano da qual eu gosto muito: o livre
intercâmbio das ideias é o meio de alcançar o bem maior], disse.
Moro lamentou não ter percebido nenhuma melhora nas
instituições brasileiras a partir das investigações da operação. [Fiquei muito
decepcionado, pois, apesar das revelações da Operação Lava Jato, não assisti a
uma resposta das instituições, como o Congresso e o governo. Não tivemos respostas],
afirmou.
[A Lava Jato não vai resolver os problemas de corrupção, não
serei eu, não será a ação penal 470 (mensalão), seremos o que nós, cidadãos,
vamos fazer a partir de agora. Precisamos de uma melhora nas instituições, e eu
não vejo isso acontecendo de maneira nenhuma], criticou o magistrado.
Ele disse em seguida que tem visto um [deserto] nas iniciativas
gerais contra a corrupção. [A Lava Jato tem uma única voz pregando nesse
deserto], afirmou. Para Moro, a corrupção no Brasil é sistêmica e tem atuado em
várias esferas do poder. [Se você imaginar que tudo o que os delatores estão
dizendo é verdade, o quadro é preocupante], afirmou. (Diário do Poder)
Foto: Dida Sampaio Estadão