Em sua delação premiada, o empreiteiro Ricardo Pessoa, dono
da UTC Engenharia, afirmou que as empreiteiras Queiroz Galvão, IESA e Camargo
Corrêa tomaram conhecimento e aceitaram pagar, junto com a sua empresa, R$ 2,4
milhões de caixa 2 para a campanha à reeleição do então presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, em 2006.
Segundo o empreiteiro, o pedido de doação [não oficial]
partiu do então tesoureiro da campanha petista José de Filippi Junior, ex-secretário
de Saúde do município de São Paulo para a empreiteira Queiroz Galvão, então
líder do consórcio QUIP, responsável pela construção da plataforma P53 da
Petrobras junto com a Camargo Corrêa, IESA e UTC.
A solicitação, então, foi discutida em uma reunião com
representantes das quatro empresas, incluindo Pessoa representando a UTC. [O
atendimento da solicitação (de dinheiro vivo para a campanha de Lula) foi
aprovado pelo conselho da QUIP em uma reunião entre o declarante (UTC),
Ildefonso Colares (então presidente da Queiroz Galvão), Valdir Carreiro
(executivo da Iesa) e Camerato (executivo da Camargo Corrêa)], relatou o dono
da UTC aos investigadores.
No encontro teria ficado definido que Pessoa seria o
responsável por operacionalizar os repasses em espécie [em razão de sua
proximidade com Filippi e da facilidade logística pelo fato de ambos estarem em
São Paulo]. Ainda de acordo com o delator, os recursos do caixa 2 vieram do
dinheiro recebido pelo consórcio pelas obras da P53 [mediante a utilização da
empresa Quadrix, no exterior].
O dinheiro foi supostamente entregue a Pessoa por um
representante do consórcio QUIP na UTC e, a partir daí, teriam sido feitas três
entregas diretamente a Filippi no comitê de campanha de Lula na Av.
Indianópolis, na zona sul da capital paulista, totalizando os R$ 2,4 milhões.
Pessoa disse que fez duas entregas pessoais a Filippi e que seu funcionário
Walmir Pinheiro fez a terceira.
Na prestação de contas apresentada à Justiça Eleitoral,
constam quatro doações oficiais da UTC para o comitê da campanha presidencial
petista totalizando R$ 1,2 milhão, valor que o próprio Pessoa admitiu em sua
delação ter repassado oficialmente para a campanha petista sem relação com o
caixa 2 envolvendo o esquema de corrupção na Petrobrás.
Defesas
O PT e a assessoria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva não quiseram comentar o caso. A Camargo Corrêa e a UTC não responderam
aos contatos da reportagem – que não localizou representantes da Iesa para
comentar o caso.
A Queiroz Galvão por meio de nota, afirmou que [as atividades
da companhia são pautadas pelo respeito aos padrões internacionais de ética
corporativa.
Em resposta, José de Filippi Junior disse não ter solicitado
[a qualquer pessoa que pedisse ou retirasse qualquer quantia em dinheiro em meu
nome. Afirma, ainda, que todas as contribuições de campanha política que
solicitei ao senhor Ricardo Pessoa foram recebidas formalmente via
Transferência Eletrônica Direta (TED) e devidamente registradas e aprovadas
pela Justiça Eleitoral.
Filippi refutou [veementemente todas as acusações que o Sr.
Ricardo Pessoa dirige a mim] e disse que [ao longo de mais de 20 anos] ocupando
[cinco mandatos populares] jamais solicitou ou recebeu [vantagens indevidas nos
cargos que exerceu]. O ex-prefeito de Diadema finalizou dizendo estar ] à
disposição das autoridades competentes para prestar os devidos esclarecimentos].
(AE)