As mensagens obtidas pela Operação Lava Jato com a apreensão
do celular do ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro Filho, conhecido nos
meios empresarial e político como Léo Pinheiro, devem servir de base para gerar
uma nova lista de investigados a ser encaminhada pelo procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal.
Ao menos três ministros da presidente Dilma Rousseff
aparecem nos diálogos obtidos na investigação: o ministro-chefe da Casa Civil,
Jaques Wagner (PT); o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva (PT); e o
ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB).
Nesta quinta-feira, veio à tona mensagens de Pinheiro em que
Jaques Wagner fala sobre a liberação de recursos do governo federal. Os
diálogos, segundo os investigadores, também indicam que Wagner intermediou
negociações para o financiamento de campanhas eleitorais em Salvador, em 2012,
no período em que esteve à frente do governo da Bahia (2007-2014). Em uma
primeira análise, o diálogo é considerado [grave] por investigadores.
A avaliação preliminar é de que as conversas de Léo Pinheiro
escancaram os [intestinos de Brasília] e relações [pouco republicanas] de
políticos com empresários na capital federal. Léo Pinheiro tinha acesso a
praticamente toda a classe política, de acordo com a investigação. Caberá ao
grupo que auxilia Janot decifrar, nas próximas semanas, os supostos esquemas
mencionados nos diálogos obtidos e identificar o que pode ser enquadrado como
indício de crime ? casos em que devem ser feitos pedidos de abertura de
inquérito.
As mensagens do celular de Pinheiro foram transcritas pela
Polícia Federal e Ministério Público Federal no Paraná, onde correm as
investigações da Lava Jato na 1.ª instância. No fim de 2015, a PF encaminhou à
Procuradoria os casos em que há menção a políticos com foro privilegiado. O
celular de Léo Pinheiro levou ao conhecimento de investigadores tanto conversas
diretas com os políticos, como contatos com intermediários e menções aos
parlamentares e ministros.
Nomes. A lista de políticos mencionados nas conversas
registradas no celular de Léo Pinheiro inclui, além dos três ministros de
Estado, os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL). Também fazem parte das conversas, de acordo com fontes com
acesso às investigações, os senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Lindbergh Farias
(PT-RJ); e os deputados federais Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Osmar Terra
(PMDB-RS). Léo Pinheiro usava apelidos para se referir aos políticos, como
[Brahma] sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No caso de Lindbergh,
a referência identificada pelos investigadores é a alcunha [lindinho]. Não há
identificação, até o momento, de trocas de mensagens diretas entre Lula e o
ex-presidente da OAS.
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o ex-deputado
federal e ex-líder do partido na Câmara Cândido Vaccarezza (PT-SP), já
investigados na Lava Jato, também surgem nas mensagens. Ainda há conversas
sobre o ex-tesoureiro do PT condenado no mensalão, Delúbio Soares, e sobre o
advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União
(TCU), Aroldo Cedraz.
A expectativa é de que na volta do recesso do STF, em
fevereiro, parte das decisões da Procuradoria seja revelada. No total, o
material com mensagens de Léo Pinheiro tem quase 600 páginas. O envolvimento do
ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, está entrelaçado às ações de
Eduardo Cunha. Há relatos de combinação de encontro entre Cunha e o
ex-presidente da OAS, por exemplo, com intermediação de Henrique Eduardo Alves,
segundo fontes com acesso ao material. (AE)
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