PARA ALIADOS, RENAN PERDE FORLJA NA BRIGA PELO COMANDO DO PMDB

A afirmação de que o presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), negociou sem intermediários um suposto repasse de propina oriunda da
Petrobras, segundo a delação premiada do ex-diretor da estatal Nestor Cerveró,
enfraquece as articulações feitas pelo peemedebista para lançar um candidato
para suceder o presidente do partido, o vice-presidente Michel Temer.

Aliados de Renan passaram a admitir que a aproximação das
investigações da Operação Lava Jato contra ele favorecem a recondução de Temer
para se manter à frente do PMDB em março, quando haverá a convenção nacional da
legenda.

Em depoimento prestado no dia 7 de dezembro, Nestor Cerveró
disse que em 2012 Renan reclamou com ele [da falta de repasse de propina]. A
queixa, conforme o delator, foi feita durante encontro no gabinete do senador.
A informação foi revelada pelo jornal Folha de S.Paulo.

Após Renan e Temer protagonizarem um bate-boca público no
mês passado sobre a condução do partido, o grupo do presidente do Senado começou
a articular um nome para retirar o atual vice do comando do PMDB, no qual está
desde 2001. Eles reclamam que Temer teria se aliado ao presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para patrocinar o impeachment da presidente Dilma
Rousseff, de quem Renan é aliado, e alijou os senadores do partido da
discussão.

Contudo, pessoas ligadas a Renan reconhecem que o avanço da
Lava Jato contra o peemedebista dificulta a viabilização de um nome para
rivalizar com o atual presidente do partido. A avaliação é de que os eventuais
desdobramentos da operação podem diminuir a influência dele numa eventual
disputa pela cúpula partidária.

O presidente do Senado é alvo de seis inquéritos na Lava
Jato. Ele não deve se lançar candidato. O nome mais cotado entre os aliados do
peemedebista é o do senador Romero Jucá (PMDB-RR), atual 3.º vice-presidente da
legenda, próximo a Temer e também investigado na operação.

Embora critiquem a falta de participação em decisões tomadas
por Temer em relação ao partido, integrantes do grupo de Renan sabem dos
empecilhos de se contrapor ao atual presidente do PMDB neste momento. O
presidente do Senado e Jucá sempre negaram envolvimento no esquema de corrupção
apurado pela Lava Jato.

Para um aliado de Renan, o presidente do Senado [está em
todas, mas tem conseguido se livrar” das investigações. A gente não sabe
até quando], avaliou. “Tirar o Michel da Presidência do PMDB por erros
menores do que as denúncias que envolvem o Renan e pessoas do grupo dele não
acrescenta em nada ao partido”, disse outra pessoa próxima a ele, defensor
de se buscar outro nome, fora dos dois grupos, para se presidir a legenda.

Acordo

Diante desse cenário, já há quem no grupo de Renan seja
favorável a se fechar um acordo com Temer para a formação de uma chapa
partidária única, de consenso. Um das principais ideias em discussão é, numa
chapa encabeçada pelo atual presidente, dar a Jucá a 1.ª vice-presidência do
PMDB.

Uma eventual composição das duas alas preocupa o Palácio do
Planalto em relação ao processo de afastamento de Dilma. Renan tem sido um
anteparo do governo contra a aliança entre Cunha e Temer. Ela poderia tanto
abrir caminho para o vice ter respaldo para suceder Dilma em caso de
impeachment quanto para fortalecer os planos do PMDB em 2018 de ter candidatura
própria ao Planalto, outro debate que deve ocorrer na convenção do partido.

A reeleição para a presidência do PMDB é atualmente o
principal foco de atuação política de Temer. Apesar dos movimentos de alas do
partido que tentam tirar o peemedebista do posto, interlocutores afirmam que o
vice está [tranquilo] que será reconduzido ao cargo. Auxiliares dizem que Temer
sabe que a ala liderada por Renan só lançará candidato contra ele se tiver
votos suficientes para derrotá-lo na disputa.

Defesa

Renan, por meio de sua assessoria, negou [as imputações] e
disse que já prestou [as informações requeridas]. Diz que [está à disposição
para quaisquer novos esclarecimentos]. (Diário do Poder)

Foto: Dida Sampaio Estadao