O advogado Tiago Cedraz foi acionado pela empreiteira OAS
pela para tentar influenciar a posição do pai, Aroldo Cedraz, presidente do
Tribunal de Contas da União (TCU), em julgamento no tribunal sobre as
concessões dos aeroportos do Galeão, no Rio de Janeiro, e de Confins, em Minas
Gerais. Mensagens de celular encontradas pelos investigadores da Operação Lava
Jato em dois aparelhos do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, mostram as
tratativas. Tiago Cedraz nega ter trabalhado para a empresa.
Reuniões foram feitas com o filho do presidente do TCU,
segundo revelam as mensagens, diante da possibilidade de o processo das
concessões de aeroportos [cair com Aroldo], como afirmou um executivo. As
mensagens mostram também que informações foram trocadas na véspera de um
julgamento acompanhado de perto pelos representantes da OAS. Uma informação é
que o ministro estaria presente na sessão. A votação em 2 de outubro de 2013, no
entanto, não foi favorável à OAS.
Em julho de 2015 , a Polícia Federal vasculhou a casa e o
escritório de Tiago, depois que ele foi citado em delação premiada do dono da
construtora UTC, Ricardo Pessoa, na Operação Lava-Jato. O advogado foi acusado
por Pessoa de receber R$ 50 mil mensais para vender informação do TCU, e R$ 1
milhão para influenciar em favor da UTC em processo sobre a usina nuclear Angra
3. Desde a chegada do pai ao TCU, em 2007, Tiago Cedraz, 32, acumulou clientes,
sócios e patrimônio. Parcela importante das causas de seu escritório está
ligada à pauta do Tribunal. Só um dos sócios atua ou atuou em 61 processos do
TCU, e o advogado costumava circular pelo órgão.
Este mês, a licitação da operação do teleférico do Complexo
do Alemão, no Rio ? vencida por uma empresa criada por Tiago um mês após o lançamento
da disputa ?, foi suspensa liminarmente pela Justiça, após a empresa derrotada
ter alegado que ofereceu o menor preço pela operação. A empresa de Tiago opera
o teleférico do Morro da Providência, no Centro, contratada, sem licitação, por
consórcio controlado por Odebrecht, Carioca e OAS, que também são alvo da PF e
da Lava-Jato.
O plenário analisou as determinações feitas para que fosse
liberada a primeira etapa das concessões de Galeão e Confins. Sete ministros ?
entre eles Aroldo Cedraz ? votaram por permitir que concessionários de outros
aeroportos pudessem participar dos novos leilões, mas com fatia inferior a 15 .
O lobby conduzido por representantes da empreiteira foi no sentido de ampliar
essa participação para além de 15 . [25 a 30], chegou a escrever Pinheiro ao
então vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa, Geddel Vieira Lima. O único
voto a favor dos interesses da empreiteira foi o do ministro Raimundo Carreiro.
O assunto é noticiado na edição desta quinta-feira (21) do
jornal O Globo. Segundo o jornal, No relatório sobre as mensagens de Pinheiro
referentes a 29 agentes políticos, a PF dedicou um capítulo a [Tiago Cedraz ou
Thiago]. [Há indicativos claros de interesse de Léo Pinheiro em conversar com
[Tiago Cedraz], o que pode fazer referência à capacidade profissional ou à proximidade
a um ministro do TCU], registra o documento. A PF cita que Tiago não tem foro
privilegiado em caso de investigação por [eventual prática do delito de tráfico
de influência].
Em setembro de 2012, executivos da OAS trataram de uma
reunião com o advogado. O interesse voltou a ser abordado em 1º de junho de
2013. [Vale a pena conversar com o Thiago Cedraz???], quis saber Gustavo Rocha,
presidente da Invepar, empresa que cuida de obras de infraestrutura de transportes
e que tem a OAS como acionista. O consórcio liderado pela Invepar venceu leilão
da concessão do Aeroporto Internacional de Guarulhos. [Vale. É bom, antes que
ele esteja do outro lado], responde Pinheiro na troca de mensagens.
Geddel também foi envolvido
Um dos executivos da empreiteira informa, em 18 de julho
daquele ano, que [Gustavo esteve com tiago cedraz]. [Chances grandes de cair
com aroldo, o nosso tema], informa a mensagem. Na véspera do julgamento do TCU
sobre o acompanhamento da primeira etapa das concessões de Galeão e Confins,
Pinheiro demonstra preocupação com o cenário no tribunal. [Situação se
complicando no TCU. 1) a Relatora (em ferias) foi substituída pelo Min. Augusto
Shermann. 2) Informações recebidas agora, sem confirmação, é de que o Relator
pode vir a favor da restrição. 3) O Min Aroldo Cedraz está tb viajando. 4)
Estou preocupado]. O presidente da Invepar responde: [O Tiago disse que
voltariam. Estou tentando falar com ele].
No dia da votação, o assunto é tratado entre Pinheiro e
Geddel. O ex-ministro atuou em defesa da OAS junto ao então ministro da
Secretaria da Aviação Civil da Presidência, Moreira Franco (PMDB), no último
ano em que exerceu o cargo de vice-presidente da Caixa. Geddel levou o pleito
de derrubar a restrição dos 15 . Em setembro, a então ministra da Casa Civil,
Gleisi Hoffmann, senadora pelo PT do Paraná, anunciou que a restrição havia
caído e que empresas que já cuidavam de outros aeroportos poderiam participar
dos novos leilões. O TCU manteve o limite dos 15 . No fim das contas, a Invepar
integrou uma proposta com 14,99 de participação. O consórcio foi derrotado no
leilão.
Por meio da assessoria de imprensa, o escritório Cedraz
Advogados disse nunca ter advogado para a OAS [individualmente[ nem para a Invepar.
O escritório atuou para [clientes engajados na participação do leilão,
inclusive com posição notoriamente contrária à do consórcio autor das
mensagens]. [Todos os processos que o escritório atuou no TCU são de
conhecimento público. Nesse caso especificamente, o escritório nunca esteve
disponível para contratação.] (Diário do Poder)