O engenheiro Armando Dagre, sócio da Talento Construtora,
declarou à força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba, que identificou [uma
certa intimidade] entre o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, e a
ex-primeira-dama Marisa Letícia em um dia de setembro de 2014 quando ambos
fizeram uma visita às obras do tríplex 164-A no Condomínio Solaris, Guarujá.
Em depoimento prestado na terça-feira, 23, a dois
procuradores do Ministério Público Federal que investigam se Lula recebeu
favores da OAS por meio da reforma do apartamento no litoral paulista, o
engenheiro relatou que um executivo da empreiteira, Paulo Gordilho, e o filho
mais velho de Lula, Fábio, acompanhavam Léo Pinheiro e a mulher do
ex-presidente.
Armando Dagre contou que estava reunido com engenheiros da
OAS para uma vistoria no imóvel quando chegaram Marisa, Gordilho e Léo Pinheiro
– este preso na Lava Jato e condenado a 16 anos de prisão por corrupção e
lavagem de dinheiro.
Segundo o engenheiro, após ouvir a informação de que a obra
estava praticamente pronta, Gordilho teria dito. [Então precisamos apressar a
instalação da cozinha.]
O sócio da Talento Construtora – subcontratada da OAS para a
reforma do tríplex do Guarujá – já havia feito um primeiro depoimento sobre o
caso, mas no âmbito do Ministério Público Estadual de São Paulo.
Nessa ocasião Armando Dagre disse que o contrato com a OAS
incluiu novo acabamento, além de uma outra piscina, mudança da escada e
instalação de elevador privativo que custou R$ 62,5 mil. O custo global ficou
em R$ 777 mil.
Ele disse que não teve nenhum contato com Lula, apenas com
Marisa Letícia, naquele dia, no apartamento do Guarujá.[A reunião estava se
desenvolvendo antes de Léo Pinheiro e dona Marisa chegarem. O propósito do
encontro era para verificar o cronograma da obra.]
À força-tarefa da Lava Jato, Dagre confirmou o que havia
declarado à Promotoria de São Paulo, inclusive a informação de que a ex-primeira-dama
animou-se com a vista para a praia das Astúrias.
Segundo Armando Dagre, [quem comentava mais sobre a obra
eram os engenheiros da OAS]. Ele apontou Paulo Gordilho. [Conhecia mais a obra
que o próprio Léo Pinheiro.]
Em sua edição de 20 de fevereiro, a revista Veja publicou
mensagens trocadas pelo WhatsApp entre Léo Pinheiro e Gordilho que, na
avaliação da Lava Jato, reforçam suspeitas de ligação do ex-presidente e sua
mulher com o tríplex.
Os textos, de fevereiro de 2014, resgatados pelos peritos da
Polícia Federal, indicam que Gordilho e Léo Pinheiro, este ainda na presidência
da OAS, estavam empenhados em concluir projeto de instalação de cozinha que, na
avaliação dos investigadores, seria a do apartamento no Solaris. Os
investigadores supõem, ainda, que as mensagens fazem referência ao sítio Santa
Bárbara, em Atibaia (SP).
[O projeto da cozinha do chefe está pronto. Se (puder)
marcar com a Madame pode ser a hora que quiser], escreveu Gordilho. [Amanhã às
19 hs vou confirmar, seria bom tb ver se o do Guarujá está pronto], respondeu
Léo Pinheiro. [O do Guarujá está pronto] devolveu Gordilho. “Em princípio,
amanhã às 19 hs”, anotou Léo Pinheiro.
Os investigadores consideram que [chefe] é uma referência a
Lula e [Madame] uma citação a Marisa Letícia.
Léo Pinheiro foi preso pela Polícia Federal em novembro de
2014, na Operação Juízo Final, etapa da Lava Jato que pegou alguns dos maiores
construtores do País como integrantes de um cartel que se apossou de contratos
bilionários da Petrobras entre 2004 e 2014. O empreiteiro foi condenado a 16 anos
e quatro meses de reclusão por corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Em 2006, quando se reelegeu presidente, Lula declarou à
Justiça eleitoral possuir uma participação em cooperativa habitacional no valor
de R$ 47 mil. A cooperativa é a Bancoop, que, com graves problemas de caixa,
repassou o empreendimento para a OAS. A Polícia Federal e a Procuradoria da
República suspeitam que a empreiteira pagou propinas a agentes públicos em
troca de contratos fraudados na Petrobras. (Diário do Poder)
Foto: Diário do Poder