As manobras de aliados do presidente da Câmara,
deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não têm limites. De acordo com laudos
grafotécnicos encomendados pelo jornal Folha de S.Paulo, a assinatura do
deputado Vinícius Gurgel (PR-AP), na carta em que ele renuncia à vaga de
titular no Conselho de Ética, foi falsificada de forma [primária] e [grosseira.
Cunha responde no colegiado por quebra de decoro
parlamentar por ter mentido aos pares, na CPI da Petrobras, sobre a existência
de contas secretas na Suíça, investigadas na Operação Lava Jato. O Conselho de
Ética tenta, desde o início de novembro do ano passado, julgar o caso. Mas
manobras intermináveis do peemedebistas e seus aliados tornaram o processo o
mais enrolado na Câmara.
Vinícius Gurgel, voto declarado a favor de
Cunha, estava fora de Brasília na noite do dia 1º de março e na madrugada do
dia 2, quando o conselho aprovou dar sequência ao processo de cassação contra o
presidente da Câmara. A vitória foi apertadíssima – 11 a favor da continuidade
contra 10 – com voto de minerva do presidente do colegiado.
O cenário apertado já era conhecido. Foi assim
durante todo o trâmite do processo. Assim sendo, cada voto era decisivo e Cunha
não poderia se dar ao luxo de não ter presente um de seus aliados ? que tem
como suplente um deputado do PT, contrário ao presidente da Câmara.
A solução encontrada pelo comboio de Cunha era a
renúncia de Gurgel.
Conforme os peritos do Instituto Del Picchia, de
São Paulo, o documento de renúncia apresenta características [peculiares às
falsificações produzidas por processo de imitação lenta, quais seja, imitação
servil ou decalque], com [inequívocos índices primários das falsificações
gráficas].
A Folha de S.Paulo também encomendou laudo de
Orlando Garcia ? perito oficial da CPI que investigou o esquema PC Farias ? e
Maria Regina Hellmeister. Eles afirmam que os exames comparativos mostram
variados antagonismos gráficos que leva, à conclusão de que a assinatura é [produto
de falsificação grosseira].
Na noite em que Cunha sofreu derrota no
Conselho, o peemedebista esticou, de forma atípica, a sessão do plenário da
Câmara, que já estava vazio, até um pouco após às 23 horas. A Carta de renúncia
de Gurgel chegou ao Conselho de Ética às 22h40. Seis minutos depois, houve a
indicação de seu substituto, Maurício Quintella Lessa (AL), líder do PR na
Câmara. Ele, claro, votou a favor de Cunha.
Vinícius Gurgel nega a manobra e afirma que
deixou em seu gabinete diversas cartas de renúncia assinadas em seu gabinete.
Ele disse ainda que estava de ressaca ao assiná-las, e, por isso, os peritos
apontaram falsificação. [Se eu assinei com pressa, se eu tava de porre, se eu
tava de ressaca, se eu assinei com letra diferente, não vou ficar me batendo
por isso], disse.
O jornal Folha de S.Paulo afirma ter encaminhado
para perícia cópia da carta de renúncia de Gurgel e três assinaturas do
deputado [reconhecidamente autênticas, dadas em outros documentos da Câmara dos
Deputados]. (Diário do Poder)
Foto: Lula Marques