Leio, nos jornais de hoje, que o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva ainda não decidiu sobre se aceitará ou não uma vaga no vastíssimo
Ministério do governo da presidente Dilma Rousseff.
A ideia é estrambótica, e tem o cheiro de manobra de meu
ex-colega do Jornal da Tarde e hoje presidente nacional do Partido dos
Trabalhadores, Ruy Falcão.
Se o ex-presidente chegar à conclusão que precisa de um
ministério (para escapar das garras do
MP de São Paulo), só lhe peço
patriotismo, e que deixe de lado conveniências
e considerações pessoais.
Que pense o senhor ex-presidente na República, no Estado
brasileiro – que ele e o Dilma trataram de esfrangalhar ( o processo
ainda está em andamento)-, e não aceite
ser Chanceler.
Deixe no lugar em que está
o embaixador Mauro Vieira, tão bem secundado pelo embaixador Sérgio
Danese. Aos poucos, lentamente, vão tentando minorar os estragos feitos à
política externa brasileira e ao próprio Itamaraty nas gestões dos chanceleres mais recentes.
Já é duro para os diplomatas ter de suportar a ultrapassada
ideologia de meados do século XX, imposta ao Itamaraty pelo assessor
internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, que há treze
anos manda e desmanda na Casa de Rio Branco.
Garcia tem como objetivo substituir os parâmetros seculares
da política externa, pelas baboseiras do livrinho que ele mesmo produziu para
ditar as bases das relações externas do Partido dos Trabalhadores.
Em sua juventude, o assessor presidencial já fazia, como
integrante do grupo gaúcho Teatro Infantil de Marionetes, o que hoje faz com a
política externa. Manobra a diplomacia
com cordinhas, escondendo-se ele nos bastidores. Posição confortável, pois assim nunca poderá
ser responsabilizado por nenhuma das trapalhadas que ele mesmo produz.
Se suportar o bafo do
manipulador de marionetes já é ônus pesado para o Itamaraty, agora, ter o
próprio Lula como Ministro das Relações Exteriores, perdoem-me, é demais; o
Brasil não merece isso.
Como presidente, Lula converteu-se sem dúvida em expoente
internacional, capaz de seduzir plateias externas com a mesma desenvoltura com
que sempre seduziu a patuleia verde-e-amarelo. Nesse aspecto, temos de
reconhecer, brilhou!
Mas ser Chanceler não é só fazer discurs, dar tapinhas nas
costas e buscar sair bem nas fotos. Há sérias questões de Estado a serem
tratadas, às vezes em reuniões multilaterais longas e aborrecidas, onde o que
se fala compromete a Nação.
Já tivemos, de fora da carreira, ótimos e péssimos
chanceleres. Alguns com grande visão do mundo, outros com nenhuma. Com o Brasil
falido do jeito que está, sem credibilidade e descoroçoado, Lula não teria o
que dizer, nem fazer.
Há outras opções na Esplanada dos Ministérios, que lhe
permitiriam fazer o que mais gosta, que é contatar gente. Sob esse aspecto, o
Ministério de Ação Social pareceria bastante mais razoável. Ficaria protegido
da justiça e não se aborreceria.
Pedro Luiz Rodrigues é jornalista, foi diplomata.