A presidente
Dilma, em entrevista a jornalistas estrangeiros, voltou a criticar o processo
de impeachment contra ela, que, após aprovação na Câmara, tramita agora no
Senado. [Estou sendo vítima de um processo baseado em uma flagrante injustiça e
fraude jurídica e política e, ao mesmo tempo, de um golpe. O Brasil tem um veio
golpista adormecido], afirmou.
Dilma disse
ter certeza de que não houve um único presidente depois da redemocratização do
Brasil que não enfrentou processo de impeachment no Congresso e lembrou que ela
não pode ser julgada pela crise econômica do País. [Me culpam como se eu fosse
responsável pelo fim do superciclo da commodities, como se no resto do mundo
essas dificuldade não fossem em escala maior], disse. [Se argumentação de crise
econômica fosse argumento para tirar presidente, não teria um presidente em
país desenvolvido], emendou.
Dilma voltou
ainda a falar que não é culpada pela crise do País, já que não poderia prever
eventos econômicos que impactaram desde 2014. [Exigem de mim que previsse
quedas do petróleo, do minério de ferro e que deveria saber se o Brasil
sofreria maior seca em 2014], afirmou. [Isso ninguém previu].
A presidente
criticou parlamentares que falaram, no dia da votação na Câmara, que o País cortou
10 milhões de empregos. [O argumento é uma lástima], afirmou, destacando que o
corte é de 2,6 milhões de postos.
Gênero
A presidente
considerou que houve um [componente forte de gênero] no tratamento dado a ela
durante o processo de impeachment. [Em muitos casos, o tratamento dado a mim,
inclusive em texto de órgão de imprensa, foi com misoginia. Se diz que mulher
sob pressão tem de ficar nervosa, histérica e desequilibrada. E tem outra ala
que diz que ela não percebe o tamanho da crise], afirmou.
A presidente
criticou ainda o fato de alguns a tratarem como [autista], pelo isolamento. [Falam
que sou autista, mas tenho um familiar nessa situação e é um baita desrespeito
como tratam. É um preconceito], afirmou. [Não sou levada a me desesperar e não
ter capacidade de lutar pelas minhas convicções], disse. [Mas realmente tem
atitudes comigo que não teriam com presidente homem].
Oposição
Ela retomou
ainda o discurso de que a crise foi ampliada por causa das eleições passadas,
quando ela venceu o senador Aécio Neves (PSDB-MG) por uma margem estreita, de
apenas 3,5 milhões de votos. [Essa eleição tornou a oposição derrotada bastante
reativa e, com isso, começou um processo de desestabilização do mandato desde o
início dele. Esse segundo mandato tem o signo da desestabilização política].
A presidente
afirmou ainda que, sem democracia, o País não vai ter capacidade de retomar o
crescimento. [Não é justo que tentem encurtamentos de caminho, que
[instabilizem] o País e a economia. É necessária uma grande repactuação
democrática que passe pela rejeição desse processo de golpe].
Indagada por
jornalistas estrangeiros se o PT e os movimentos sociais iriam resistir nas ruas
ao processo de afastamento, Dilma disse que seu partido e outros que a apoiam e
movimentos populares têm consciência de que uma série de conquistas está em
jogo. [Acho que quem tem honra e dignidade tem uma opção frente ao golpe:
resistir. E eu vou resistir].
Cunha
Dilma voltou
também a criticar o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), que, segundo ela, tem práticas absolutamente condenáveis, entre elas
colocar em votação as chamadas pautas-bomba, [medidas populistas que impactaram
na rigidez] fiscal. Ela citou, entre os exemplos, a que muda a correção de
dívidas de Estados de juros compostos para juros simples. [Todas as
pautas-bombas já resultaram em R$ 140 bilhões de rombo], afirmou.
Dilma também
lembrou que Cunha é investigado por lavagem de dinheiro e por ter contas no
exterior e só acatou o impeachment contra ela porque o governo não aceitou
negociar votos para livrá-lo da comissão processante na Câmara. [Me sinto
vítima de um processo no qual os meus julgadores, principalmente o presidente
da Câmara, tem um retrospecto que não o abona para ser juiz da nada, mas para
ser réu], afirmou.
Dilma citou
também o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), chamado novamente
de [conspirador], citando o áudio vazado por ele no qual já falava como se
estivesse no cargo.
Pedaladas
A presidente
reservou um longo tempo para tentar explicar as chamadas pedaladas fiscais,
base do pedido de impeachment. Segundo ela, os créditos suplementares não significam
criação de despesa. [Dos R$ 95 bilhões em recursos analisados, maior parte é
transferência, só R$ 2,5 bilhões não são], justificou.
Ainda segundo
ela, é errada a informação de que os bancos públicos foram utilizados com
irresponsabilidade fiscal e avaliou que as instituições financeiras prestaram
serviços ao governo federal na área de transferência de renda. [Concordamos com
TCU (Tribunal de Contas da União) em diminuir o tempo em que o passivo ou ativo
em bancos fica a descoberto]. [TCU decidiu reduzir prazo para repasses a bancos
em outubro e dezembro de 2015.]
A presidente
explicou ainda que havia de fato dinheiro não repassado a bancos, nos casos da
diferença dos juros subsidiados em programas como o Plano Safra, o Minha Casa,
Minha Vida e o Programa de Sustentação do Investimento (PSI). [Pela boa prática
da segurança jurídica, pagamos o passivo de R$ 58 bilhões no final do ano
passado. São questões contábeis fiscais que não dizem respeito ao mau uso do
dinheiro público. Só a forma de gestão financeira do governo federal.]
[Não tenho
nenhum processo por corrupção e qualquer irregularidade com dolo ou má-fé. Sou
vítima de um processo de meias verdades. O impeachment é previsto na
Constituição, mas é necessário haver crime de responsabilidade], disse a
presidente, repetindo que o processo é golpe por não haver o base legal para
isso.
Bolsonaro
A presidente
considerou [lamentável] o fato de o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) ter
[homenageado] o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra durante o voto pela
admissibilidade do processo de impeachment como ela na Câmara.
[A fala
desse deputado é lamentável. Fui presa e torturada e esse senhor (Ustra) foi um
dos maiores torturadores do Brasil e sobre ele recaem acusações de tortura e
morte], disse. [É terrível alguém votar no julgamento em homenagem ao maior torturador
que esse País conheceu].
Olimpíada
Dilma
avaliou há pouco, em entrevista a jornalistas estrangeiros que o governo segue
trabalhando bastante para viabilizar a Olimpíada no Brasil e ainda que acredita
na retomada do crescimento do País.
[Continuamos
sendo a sétima, oitava economia do mundo e vamos galgar novos degraus. Acredito
nisso, lutarei por isso e um dos motivos pelos quais tenho a tranquilidade de resistir
é esse”, afirmou.[Trabalhamos bastante para viabilizar os Jogos Olímpicos
e todas as estruturas esportivas, a capacidade de se comunicarem com o mundo].
(Com informações da agência Estado)
FOTO: WILTON
JÚNIOR/AE