O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki
autorizou a inclusão, no inquérito que apura a existência de uma organização
criminosa na Petrobras, de citações feitas à presidente Dilma Rousseff, ao
ex-presidente Lula e ao vice-presidente Michel Temer pelo senador Delcídio do
Amaral (ex-PT-MS) em sua delação premiada.
Esse inquérito é o principal da Lava Jato que tramita no
Supremo, pois investiga a relação de 50 políticos na formação de uma
organização criminosa que teria atuado no esquema de corrupção da Petrobras.
A decisão de Teori, assinada nesta terça-feira (19) em
resposta a um pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não
significa que os três se tornam formalmente investigados no inquérito, o que
dependerá do andamento da apuração.
Mas é uma etapa inicial que pode acarretar na investigação
da relação deles com o esquema. Para a Procuradoria, as citações feitas por
Delcídio complementam a narrativa da atuação do núcleo político que teria
ligações com os desvios na estatal.
O senador fez revelações sobre o envolvimento do PT e do
PMDB nas irregularidades e implicações a mais de 70 pessoas.
[No que tange ao desvio de verbas em favor do PMDB o
possível esquema de financiamento ilícito desse e de outro partido constitui
objeto do inquérito 3989 [que investiga organização criminosa], disse.
Janot pediu a inclusão nesse inquérito do segundo depoimento
prestado pelo senador Delcídio, que assinou acordo de delação premiada com a
Procuradoria.
Nesse depoimento, Delcídio explica fatos relacionados à
nomeação de Nestor Cerveró para a diretoria Internacional da Petrobras e,
depois, para uma diretoria da BR Distribuidora.
Segundo Delcídio, Lula deu o aval para a nomeação de Cerveró
para a diretoria Internacional e, no outro momento, Dilma também autorizou que
Cerveró assumisse o cargo na BR Distribuidora -o que, dizem delatores, foi uma
recompensa a uma atuação do ex-diretor em favor do grupo Schahin para quitar
uma dívida do PT.
No mesmo depoimento, o senador conta que Michel Temer
chancelou as nomeações de João Henriques e Jorge Zelada para a diretoria
Internacional da Petrobras, ambos atualmente acusados de corrupção na Lava
Jato.
Teori também autorizou a inclusão nesse inquérito de um
outro depoimento de Delcídio que novamente cita Temer, dando mais detalhes
sobre o envolvimento de João Henriques com irregularidades. O senador afirma
que Henriques foi apadrinhado pelo atual vice-presidente da República.
FHC
Teori também autorizou que seja juntado neste mesmo
inquérito um depoimento de Delcídio sobre um caso de corrupção durante a gestão
do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) na Petrobras ? prejuízo em
contratos de sondas e plataformas.
O pedido sinaliza que o inquérito pode ultrapassar o período
da gestão petista e também abarcar investigação sobre a formação de organização
criminosa na Petrobras durante a gestão FHC.
Outro lado
As assessorias de Lula e do Planalto não responderam até as
19h30.
Em depoimento à Polícia Federal em 4 de março, Lula negou
influência na escolha de Cerveró e disse que as indicações eram feitas pelos
partidos à Casa Civil. Dilma também já negou relação com a indicação do
ex-diretor.
A assessoria de Temer informa que ele não foi responsável
pelas indicações de Henriques e Zelada. Segundo a assessoria, elas partiram da
bancada do PMDB de Minas Gerais, foram apresentadas à Casa Civil da Presidência
e não tiveram a participação de Temer. (Gazeta do Povo)
Foto: Gazeta do Povo.