Novas gravações mostram conversas durante reunião na casa do
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com a participação do atual
ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, quando
ele ainda era conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A conversa,
divulgada pelo programa [Fantástico], da Globo, neste domingo, foi gravada pelo
ex-senador Sérgio Machado, que presidiu a estatal Transpetro por quase 12 anos,
por indicação de Calheiros.
Machado afirma que na conversa Fabiano Silveira fez críticas
à condução da Lava Jato pela Procuradoria Geral da República e dá conselhos a
investigados na operação. O ministro foi indicado por Calheiros para o cargo de
conselheiro do CNJ. A gravação ocorreu cerca de três meses antes de Fabiano
assumir o cargo.
Sérgio Machado contou aos procuradores que no dia 24 de
fevereiro foi à casa de Calheiros para conversar, entre outras coisas, sobre,
abres [as providências e ações que ele estava pensando acerca da operação Lava
Jato], e afirma que participaram dessa conversa duas pessoas que ele disse
serem [advogados de Renan]. Um deles, segundo Machado, se chama Bruno. Trata-se
de Bruno Mendes, advogado e ex-assessor de Renan. O outro era Fabiano.
Pelas gravações, é possível entender que Fabiano orienta
Renan e Sérgio Machado sobre como se comportar em relação à Procuradoria Geral
da República. A qualidade do áudio é ruim, há varias pessoas na sala, mas é
possível identificar as vozes de Machado, Renan Calheiros, Fabiano e Bruno
Mendes.
A acusação de Paulo
Roberto Costa
Na gravação, a certa altura, Sérgio Machado lê alto um
depoimento do ex-diretor da Petrobras e delator da Lava Jato Paulo Roberto
Costa. Eles ouvem as acusações e os argumentos de defesa de Machado, que se
dirige a Fabiano e diz que as explicações que tem são [contundentes]. Bruno
critica a cobertura da imprensa.
MACHADO: Esse foi o motivo, Fabiano… (inaudível). As
explicações que estão aí, você vê que são todas contundentes.
BRUNO: Tudo que eles falam, p****, a imprensa só dá…
Rapaz, você acredita que os caras tinham a cara de pau de dizer no noticiário
que o (inaudível) ia ser julgado? (inaudível)
Em seguida, Fabiano faz um comentário sobre a situação de
Sérgio Machado e diz que ele deve procurar o relator da medida cautelar para
prestar esclarecimentos.
FABIANO: Eu concordo com a sua condição de, tendo sido
objeto de uma medida cautelar, simplesmente, não… Dizer assim: [olha, não é
comigo isso..] acho que tem que dizer, tem que se dirigir ao relator prestando
alguns esclarecimentos, é verdade.
MACHADO: Sobretudo Fabiano… Não tem nada.
BRUNO: Nós não temos um movimento pra fazer agora.
Renan preocupado
Renan Calheiros diz a Fabiano que está preocupado com um dos
inquéritos a que responde no Supremo, o que investiga se o presidente do Senado
e Sérgio Machado, entre outros, receberam propina ? em forma de doações
eleitorais ? para facilitar a vitória de um consórcio de empresas em uma
licitação para renovar a frota da Transpetro.
Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef citaram o negócio em
depoimento. A campanha de Renan teria sido contemplada com duas doações no
valor total de R$ 400 mil.
Na gravação, Renan diz a Fabiano, sem entrar em detalhes,
que está preocupado com um recibo. Machado diz que ele foi incluído em um
processo de R$ 800 mil. Uma voz que não é possível identificar pergunta se foi
Youssef quem disse que o dinheiro foi pra Renan. Machado diz que não.
RENAN: Cuidado, Fabiano! Esse negócio do recibo… Isso me
preocupa pra c******. (…)
MACHADO: Eles me botaram num processo lá de 800 mil que o
Youssef tinha dito que era pra… (inaudível) estaleiro. Que eles estão de
acordo se tem certeza que era pra você (inaudível).
(voz não identificada): Yousseff disse?
MACHADO: Não. Da conclusão eles entendem que… (inaudível)
Aconselhamento
A conversa mostra Fabiano aconselhando Renan dizendo que,
aparentemente, ele não deve entregar uma versão dos fatos, pois isso daria à
Procuradoria condições de rebater detalhes da defesa.
FABIANO: A única ressalva que eu faria é a seguinte: está
entregando já a sua versão pros caras da… PGR, né. Entendeu? Presidente, porque tem uns detalhes
aqui que eles… (inaudível) Eles não
terão condição, mas quando você coloca aqui, eles vão querer rebater os
detalhes que colocou. (inaudível)
Críticas à PGR
Fabiano chega a fazer críticas à condução da investigação
pela Procuradoria e diz que Janot e os procuradores estão perdidos.
MACHADO: Diz que o… Janot não sabe nada. O Janot só faz…
(inaudível) cada processo tem um procurador.
FABIANO: Eles estão perdidos nesta questão.
(…)
MACHADO: A última informação que vocês têm, não tem nada,
não apuraram nada até hoje, é isso?
FABIANO: não.
(voz não identificada): É a última informação, né?
(inaudível). Eles, desde o início,
Sérgio, eles estão jogando verde para colher maduro. O cara fala: [eu não
conheço o Renan]… (inaudível).
FABIANO: Eles foram lá buscar o limão e saiu uma limonada.
Conversa com Janot
Em outra conversa, em
11 de março, sem a presença de Fabiano,
Renan e Sérgio Machado comentam a atuação do atual ministro da Transparência,
Ficalização e Controle, que teria ido falar com o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, depois da reunião que tiveram em 24 de fevereiro.
O [Fantástico] apurou que Fabiano procurou diversas vezes
integrantes da força-tarefa da Lava Jato para tentar obter informações de
inquéritos contra Renan. E saía de lá com informações evasivas, que eram
comemoradas por Renan. Nesta conversa, Renan disse que alguém na Procuradoria
nada tinha achado contra ele e que tinha classificado o presidente do Senado de
[gênio].
RENAN: Ele disse ao Fabiano: [Ó, o Renan… Se o Senan tiver
feito alguma coisa que eu não sei… Mas esse cara, p****, é um gênio, usou
essa expressão. [Porque nós não achamos nada].
MACHADO: Já procuraram tudo.
RENAN: Tudo.
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