Relatório de análise da Polícia Federal detalha que a
construtora Odebrecht adquiriu um prédio de três andares na Vila Clementino,
Zona Sul de São Paulo, em junho de 2010, e planejava instalar ali a sede do
futuro Instituto Lula.
De acordo com o documento, obtido pelo jornal O Globo, a
compra foi feita em nome da DAG Construtora, de Salvador, que pertence a
Demerval Gusmão, amigo e parceiro de negócios de Marcelo Odebrecht, dono da
empreiteira. A DAG é a mesma que, em 2013, a pedido da Odebrecht, pagou o
jatinho que levou o ex-presidente Lula a Cuba, República Dominicana e Estados
Unidos.
O projeto incluía reforma do imóvel, com instalação de
auditório, sala para exposição e até apartamento com cinco suítes na cobertura.
E a família Lula sabia dos planos de usar o prédio para o instituto, segundo as
investigações. O documento foi com os planos foi localizado numa pasta cor de
rosa endereçada a dona Marisa Letícia e apreendida pela Polícia Federal, no
início deste ano, no sítio de Atibaia (SP) que era usado por Lula e sua
família.
No entanto, o prédio não veio a ser o Instituto Lula, que
hoje fica na antiga instalação do Instituto Cidadania, no Ipiranga. Mas somente
porque os responsáveis pela compra descobriram que o imóvel estava envolvido em
pendências judiciais dos antigos proprietários.
Segundo a reportagem, além da pasta com o projeto de
reforma, a PF apreendeu na residência de Lula, em São Bernardo do Campo, e-mails
impressos que indicam que a negociação do prédio, de 5.268 m² de área
construída, chegou a ser feita por Roberto Teixeira, amigo e advogado do
ex-presidente. E foi Teixeira quem ajudou na aquisição do sítio de Atibaia por
Fernando Bittar e Jonas Suassuna. Os e-mails apreendidos contêm o preço de
venda do prédio (R$ 10 milhões) e as dívidas pendentes (de R$ 2,3 milhões).
Embora a DAG tenha registrado em cartório a compra do prédio
por R$ 6,8 milhões, a PF acredita que o valor real foi R$ 12,3 milhões, o mesmo
citado nos e-mails enviados a Teixeira. O valor é considerado compatível com os
R$ 12,4 milhões anotados ao lado da expressão [prédio (IL)], na planilha [Programa
Especial Italiano], apreendida no e-mail de Fernando Migliaccio, um dos
executivos do departamento de propinas da Odebrecht.
O relatório da PF menciona ainda um outro documento,
apreendido na sala de Marcelo Odebrecht e de sua secretária, Darci Luz, que
aponta a compra de um terreno da ASA para construção do [prédio do Instituto] e
diz que o preço foi abaixo do escriturado. Há ainda menção a eventuais riscos a
que a DAG ficaria exposta devido às dívidas relacionadas ao imóvel.
Procurada, a Odebrecht não quis se manifestar. Em nota, a DAG
disse que a aquisição se deu [em razão de investimento imobiliário]. Em nota, o
Instituto Lula informou que funciona em sobrado adquirido em 1991 pelo antigo
Instituto Cidadania e que só considerou construir um prédio quando apresentou a
proposta de Memorial da Democracia, em 2012. (Diário do Poder).
(FOTO: REPRODUÇÃO/IL)