Nas alegações finais apresentadas anteontem por sua defesa
ao juiz Sérgio Moro, o pecuarista José Carlos Bumlai afirma ter sido o [trouxa
perfeito do PT] para viabilizar o empréstimo de R$12 milhões que captou no
Banco Schahin, em outubro de 2004. O dinheiro, segundo o próprio pecuarista,
foi destinado ao PT. Segundo a Lava Jato, em troca da operação financeira, o
Grupo Schahin foi favorecido por um contrato de US$ 1,6 bilhão sem licitação
com a Petrobrás, em 2009, para operar o navio sonda Vitória 10.000.
As alegações finais foram apresentadas na ação penal em que
Bumlai é réu por corrupção, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta de
instituição financeira. A defesa do pecuarista diz que ele [sabe ter cometido
um grave equívoco, que redundou na acusação, tem consciência de seus atos e de
muitos deles se arrepende].
Amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bumlai foi
preso em novembro de 2015 na Operação Passe Livre, desdobramento da Lava Jato.
Debilitado por um câncer na bexiga e problemas cardíacos, o pecuarista, de 71
anos, foi autorizado em março deste ano a cumprir prisão domiciliar e fazer
tratamento em casa. Na quinta-feira passada, porém, o juiz da Lava Jato
determinou que o pecuarista volte para a prisão em regime fechado.
No documento de 70 páginas, a defesa de Bumlai pede a Moro
que devolva a ele a liberdade. Seus advogados relatam que no caso envolvendo o
empréstimo no Banco Schahin, [o PT precisava de dinheiro para, entre outras
providências, quitar dívidas da campanha da prefeitura de Campinas].
Eles citam o que chamam de interesse da instituição
financeira em se aproximar do governo federal e do PT [para se beneficiar de novas
?oportunidades de negócios]. [Nesse contexto, como esclareceu Bumlai, o
empréstimo já estava totalmente aprovado e só precisava de um [trouxa] pra
assinar e ficar responsável por ele. E o [trouxa] escolhido foi José Carlos
Bumlai que, além de ser conhecido de todos os envolvidos, era adimplente e
amigo do presidente Lula. Eis o trouxa perfeito!]
[Contramão]
Para os defensores do pecuarista, [na contramão do que tem
sido comum nos processos envolvendo a força-tarefa da Lava Jato], Bumlai [não é
lobista, não é empreiteiro, não é político e tampouco se beneficiou de
contratos milionários com o governo federal].
[Bumlai errou e arrepende-se imensamente. Afinal, cometeu
falsidades documentais que possibilitaram a irrigação ilícita de recursos ao
Partido dos Trabalhadores, sucedida, posteriormente e à sua total revelia, de
uma compensação de favores escusa entre esta agremiação partidária e o Grupo
Schahin em negociações com a Petrobrás. Mas, a César o que é de César!], diz do
texto dos advogados.
Nas alegações finais, os advogados de Bumlai argumentam
ainda que apesar de não ter assinado nenhum acordo de colaboração premiada, o
pecuarista [confessou voluntária e espontaneamente suas condutas, auxiliando
efetivamente para o deslinde não só das investigações que redundaram nesta ação
penal].
O Estado não localizou nenhum representante do PT para
comentar as declarações da defesa de Bumlai. A reportagem também não conseguiu
contato com representantes do Schahin. (Diário do Poder)