A sinalização do presidente Michel Temer de que vai adiar o
envio do projeto de reforma da Previdência para depois das eleições municipais
abriu uma nova crise na relação do Palácio do Planalto com o PSDB, principal
aliado do governo. O partido, que ocupa a liderança do governo no Senado, não
foi informado da intenção de Temer de procrastinar o processo. [Se optaram por
enviar após a eleição, paciência. Eu preferia discutir esse assunto o mais
rápido possível], disse o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, após se
reunir em São Paulo com o governador Geraldo Alckmin, que endossou a cobrança.
[Para já ir amadurecendo e ganhando corpo eu acho que deveria mandar o quanto
antes. Se deixar para o final do ano corre o risco de não votar em 2016],
completou o governador. Aécio esteve em São Paulo para um encontro com Alckmin
no Palácio dos Bandeirantes e outro com o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso para tratar da relação do governo com o partido. Com a visita, o tucano
cumpriu um ritual de consulta que, dessa vez, avaliza um recado ao governo: ou
Temer assume o ajuste fiscal, ou o PSDB desembarca da base aliada. [O governo
deve ter suas razões (para o adiamento), mas não pode sinalizar para a perda da
prioridade do ajuste fiscal], afirmou Aécio em conversa com jornalistas no
Palácio dos Bandeirantes. Respaldo. Ao escolher o local da reunião, o tucano
tenta demonstrar que tem respaldo interno para pressionar Temer. Aécio disse,
ainda, que [não foi bom] o governo ter decidido mudar o prazo do envio da
reforma da Previdência sem comunicar o partido. Ao jornal O Estado de S. Paulo,
o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), líder do governo no Senado, foi na mesma
linha e também pediu pressa. “Tem que começar a divulgar o projeto para
iniciar a batalha da opinião pública. Quanto antes isso for esclarecido melhor.
[ Conforme revelaram na segunda-feira (5) a reportagem e a colunista do jornal
O Estado de S. Paulo Vera Magalhães, a base aliada de Temer pressiona para
adiar o envio da proposta de reforma da Previdência para depois das eleições
para não prejudicar os candidatos aliados. A proposta é polêmica, pois prevê
idade mínima de 65 anos para a aposentadoria. Em um jantar com líderes da base
aliada na semana passada, Temer avisou que pretende apresentar a reforma
provavelmente até o fim deste mês. Aliados do Centrão e da antiga oposição – os
dois blocos de sustentação governista – reclamam que a apresentação do texto
coincidiria com o auge das campanhas municipais – o primeiro turno será no dia
2 de outubro. O projeto seria entregue a um Congresso praticamente vazio.
Segunda-feira, em Brasília, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira
Lima, minimizou a pressão.[Não teria como aprovar antes. O envio do texto dez
dias antes ou dez dias depois não faz diferença]. Aécio, por sua vez, pensa que
Temer precisa dar [sinais mais claros]. [Se não enviar hoje, então quando
será?], questionou. Em viagem à China, onde participou de encontro do G-20, o
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, evitou falar em prazos e afirmou que o
projeto será encaminhado quando estiver pronto. [É uma coisa que terá efeito
por décadas], disse o ministro, ressaltando que [um ou dois meses] não farão
diferença. Auxiliares de Temer garantem que o cronograma não será afetado se o
projeto for apresentado duas ou três semanas depois do previsto. Temer espera,
porém, que o adiamento seja [compensado] com um esforço concentrado após a
eleição.
Pedro Venceslau e Carla Araújo | Estadão Conteúdo
Foto: Valter Campanato / Agência Brasil