[O preço da liberdade é a eterna vigilância, como se diz – e
o combate à corrupção também exige eterna vigilância da sociedade civil e das
instituições]. A afirmação foi feita nesta terça-feira (04) ao Diário do Poder
pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª.Vara Federal de Curitiba, que conduz a instrução
e os julgamentos na operação Lava Jato.
Moro disse que não há previsão para o fim da operação. [Quem
sabe, num período razoável isso chegue a um fim, mas é difícil fazer um
prognóstico], disse o juiz em entrevista ao site da Associação dos Juízes
Federais do Brasil (Ajufe), em São Paulo, onde participou do V Fórum Nacional
de Juízes Federais Criminais promovido pela entidade, abordando o tema
[Corrupção e lavagem de dinheiro]. O painel foi conduzido pelo presidente da
Ajufe, Roberto Veloso.
Sérgio Moro disse que é praticamente impossível fixar um
prazo quanto à conclusão da operação. [Há um grau de imprevisibilidade nessas
investigações porque, eventualmente, provas novas vão surgindo em relação a
novos crimes, e simplesmente os procuradores, a polícia e o juiz não podem
virar o rosto de lado e deixar de lidar com o que for aparecendo], disse.
Para o responsável pelo julgamento dos processos dos investigados na Lava Jato, a operação
sozinha não acabará com o problema da
corrupção sistêmica no País. Segundo ele, o combate a esse mal [exige um
trabalho cotidiano envolvendo não só a Justiça criminal, mas as demais
instituições e a própria sociedade civil].
Ele afirmou que encara as críticas à condução da Lava Jato
como fruto de irresignação dos investigados. [Quando se sai de um sistema de
privilégio e de impunidade para um sistema de responsabilidade, sempre vai
haver evidentemente alguma turbulência].
Para o juiz, [o Brasil tem dado passos importantes no enfrentamento
da corrupção sistêmica]. Em palestras no exterior, ele tem se [surpreendido com
a opinião externa que está vendo o Brasil no momento com bons olhos].
Eis a íntegra da
entrevista:
Depois do resultado das últimas eleições, o senhor acha que
o Brasil tomará jeito, vai mudar ou vamos continuar nessa situação ?
Sem referência específica às eleições, nós estamos numa
democracia e uma democracia sempre pode evoluir, desde que nós permaneçamos
dentro da democracia há possibilidade de aperfeiçoamentos. E uma das formas de
aperfeiçoamento é esse enfrentamento a esses quadros de corrupção sistêmica.
Então não se pode perder a fé e a
esperança de que as coisas podem melhorar,
evidentemente.
O senhor então tem a
convicção de que as coisas vão melhorar no Brasil?
Olha, acredito que o Brasil tem dado passos importantes no
enfrentamento da corrupção sistêmica. Eu tenho até eventualmente feito algumas palestras no exterior e tenho
me surpreendido com a opinião externa, vendo o
Brasil no momento com bons olhos. O Brasil está enfrentando seus
problemas.
Como o senhor
analisa, sem entrar em detalhes, o resultado das eleições em todo o Brasil.
Não, não avalio as eleições, de nenhuma forma.
Uma questão que é
sempre colocada: a Lava Jato, a mais importante operação de combate à corrupção
e lavagem de dinheiro já deflagrada no país, tem algum limite de tempo para
acabar ou não há como fixar um limite?
Existe um grau de imprevisibilidade porque, nessas investigações,
eventualmente, provas novas vão surgindo em relação a novos crimes e
simplesmente os procuradores, a polícia e o juiz não podem virar o rosto de
lado e deixar de lidar com o que for aparecendo. De forma que há essa
imprevisibilidade. Agora, muito já se caminhou em relação às investigações de
crimes havidos na Petrobras. Então, quem sabe, pode ser que num período
razoável isso chegue a um fim. Mas é impossível fazer um prognóstico.
Mas o combate à
corrupção e lavagem de dinheiro deve ser uma luta permanente no Brasil?.
Não existe um caso criminal que vai resolver os problemas de
corrupção do País, isso é uma ilusão. Para resolver, é preciso um trabalho
cotidiano que envolve não só a Justiça criminal mas as demais instituições e a
própria sociedade civil. Como se diz, o preço da liberdade é a eterna
vigilância. E a liberdade contra a corrupção também exige eterna vigilância da
sociedade civil e das instituições.
Só para concluir,
como o senhor encara as críticas recebidas pela condução da operação,
principalmente daqueles que estão sendo alvo das investigações e penalizados?
Olha, existe uma irresignação. Mas quando se sai de um
sistema de privilégio e de impunidade para um sistema de responsabilidade,
sempre vai haver evidentemente alguma turbulência.
Diário do Poder
(FOTO: FÁBIO RISNIC)