A cada fase da Operação Lava Jato, nos últimos dois anos,
desde março de 2014, a força-tarefa reúne a imprensa e concede coletiva para
explicar detalhes das investigações, informando as razões das prisões, da
motivação, das circunstâncias e se deixando crivar de perguntas de jornalistas.
Em vez de o ritual democrático merecer destaque por tornar o processo transparente,
passou a ser chamado de [espetacularização] quando os promotores convocaram
nova coletiva para explicar as razões do indiciamento do ex-presidente Lula por
crimes como corrupção.
Queiram ou não seus críticos, a Lava Jato avança e os dados
do MPF provam isso. Já foram 1.397 procedimentos instaurados, 654 buscas e
apreensões, 174 conduções coercitivas, 76 prisões preventivas, 92 prisões
temporárias e 6 prisões em flagrante. Além disso, já foram 49 acusações
criminosas contra 239 pessoas físicas. Até hoje já hoive 106 condenações na
Lava Jato.
Mas, sempre que um investigado é denunciado, os pocuradores
retomam a rotina das coletivas para explicar a iniciativa. Foi assim em 6 de
maio deste ano, quando o ex-senador Gim Argello, o empresário Ronan Maria
Pinto, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e nomes ligados às maiores
empreiteiras do País, como Marcelo Bahia Odebrecht e Léo Pinheiros, da OAS,
foram os alvos.
Em 14 de maio, a situação se repetiu quando os ex-deputados
Pedro Corrêa (ex-PP-PE), sua filha Aline Corrêa (PP-SP), André Vargas
(ex-PT-PR) e Luiz Argôlo (afastado do SD-BA) foram denunciados.
A única coletiva que rendeu críticas à força-tarefa,
inclusive do ministro-relator Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal STF),
foi no caso da denúncia do ex-presidente Lula por lavagem de dinheiro e
corrupção, no fim do mês passado. É como se Lula estivesse acima da lei, como
se fosse inimputável.
Os petistas atacaram os procuradores e usaram primeiro a
expressão [espetacularização],adotada sem demora por setores que estavam
ansiosos por um pretexto para fazer um gesto de solidariedade aos investigados
por roubarem o País. Tudo porque Deltan Dellagnol voltou a explicar
pedagogicamente, usando inclusive os recursos de powerpoint, para apresentar a
denúncia e as ramificações do esquema criminoso ligado a Lula.
Além de criticar, os petistas e outros setores a serviço dos
investigados que são contra a Lava Jato também descontextualizaram as frases da
entrevista e disseminaram tópicos como [não temos provas, mas temos convicção],
o que nunca foi dito. Nessa situação, a Associação Nacional dos Procuradores da
República (ANPR) divulgou nota repudiando o caso.
Até tu, Teori?
Já o ministro Teori Zavascki negou uma manobra pretendida
pela defesa de Lula, que mais uma vez tentava fugir do alcance do rigoroso juiz
federal Sérgio Moro, mas, em compensação, chamou de [espetáculo midiático] a
entrevista coletiva habitual, que ganhou repercussão por atingir Lula, o
[inimputável]. A crítica do ministro mereceu mais destaque na imprensa do que
sua decisão, negando a pretemsão do ex-presidente. Afirmou Zavascki em seu
dstacho:
[Eu gostaria de fazer uma observação que parece importante:
nós todos tivemos a oportunidade de verificar um espetáculo midiático de forte
divulgação se fez lá em Curitiba não com a participação do juiz, mas com o
Ministério Público e Polícia Federal, que se deu noticia de organização
criminosa colocando presidente Lula como líder dessa organização criminosa.
(…) Essa espetacularização do episódio não é compatível com aquilo que é
objeto da denúncia nem com a seriedade que se exige na apuração desses fatos].
Investigados adoraram
Os investigados, é claro, aproveitaram para se associarem às
críticas criticam a operação. Em 20 de setembro, Renan Calheiros (PMDB-AL),
presidente do Senado e réu na Lava Jato, disse que a operação é um [avanço civilizatório],
mas que [precisa separar o [joio do trigo] e acabar com o [exibicionismo].
Em agosto, o deputado Wadih Damous (PT-RJ), militante da
defesa de correligionários acusados de corrupção, também foi na onda e fez uma
crítica à Lava Jato e ao juiz Moro. [Quando iniciei na advocacia, o juiz só
falava nos autos, não se manifestava. Estes tempos, para mim, são muito
estranhos], afirmou. (Diário do Poder)
(FOTO: GERALDO BUBNIAK/AE)