Dezenas de amigos, parentes, personalidades do meio
artístico e, principalmente, fãs, ocuparam desde as 9h deste sábado (14/6) o
saguão do Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, no centro do Rio, para
prestar a última homenagem à cantora e atriz Marlene. A estrela da era de ouro
do rádio brasileiro morreu no final da tarde dessa sexta-feira (13), aos 89
anos, no Hospital Casa de Portugal, no Rio Comprido, zona norte da cidade, de
falência múltipla dos órgãos.
Muito emocionado, o filho único da cantora, Sérgio
Henrique Bonaiutti, disse que ?o Brasil perdeu uma grande estrela, e eu a mãe
que tanto admirava?. A emoção também tomava conta dos veteranos integrantes dos
fã-clubes da cantora, como a Associação Marlenista e o Fã-Clube Marlene.
Portando fotos antigas da estrela e os estandartes das agremiações, eles se
posicionaram em volta do caixão para reverenciar o ídolo.
Membro da Associação Marlenista, José Ramalho lembrou
que até sofrer uma fratura no fêmur, há cerca de três anos, Marlene permanecia
ativa. A última gravação foi em 2007, o CD e o DVD Marlene, a Rainha e os
Artistas do Rádio, gravado no auditório daRádio Nacional, no Edifício A Noite,
na Praça Mauá, e lançado com um show da cantora na hoje extinta loja de discos
Modern Sound, em Copacabana.
?Mesmo com o afastamento dela, nós nunca deixamos de
homenageá-la todos os anos, em seu aniversário, 22 de novembro?, contou
Ramalho. ?No ano passado, comemoramos a data aqui mesmo no João Caetano, com as
cantoras Ellen de Lima, Sonia Delfino e Doris Monteiro interpretando o
repertório de Marlene. Agora, estamos lutando por uma nova edição do DVD,
porque a primeira, patrocinada pela Petrobras, está esgotada?, disse o veterano
fã.
Presente ao velório, o historiador da música popular
brasileira Ricardo Cravo Albin destacou a qualidade da discografia da cantora.
Fundador do Museu da Imagem e do Som (MIS), Albin dirigia a instituição quando
Marlene estrelou em 1968, no então Teatro Casa Grande, o show Carnavália, de
Sidney Miller e Paulo Afonso Grisolli e dirigido pela cronista Eneida, com a
participação ainda dos cantores Nuno Roland e Blecaute.
?Com os poucos recursos tecnológicos que o museu tinha
na época, fizemos a gravação integral do espetáculo, em apenas dois canais, e
editamos em dois LPs. À parte os sucessos avulsos, oshow e o disco constituem o
que Marlene fêz de mais importante em matéria de carnaval?, disse Albin.
Coautora, juntamente com o jornalista Sérgio Cabral, do
musical Sassaricando, que reviveu as marchinhas de carnaval, a atual diretora
do MIS, Rosa Maria Araújo, lembrou a versatilidade de Marlene como artista.
?Ela era uma cantora múltipla. Não se negava a nenhum gênero, ia da marchinha,
ao samba canção, às músicas dramáticas. Tanto que o show dela com Edith Piaf no
Olympia de Paris foi um sucesso.Talvez tenha sido a única cantora que
atravessou todas as fases da música brasileira, a do rádio, a do teatro, a da
boate e a da televisão. Ela conseguiu estar em tudo isso, sempre com muito
brilho, porque era uma atriz, uma cantora completa que se expressava com o
corpo, com a face, com uma voz muito peculiar?, ressaltou Rosa Maria.
Por volta das 15h, o velório foi encerrado e o corpo
seguiu para a cremação no Memorial do Carmo, no Cemitério do Caju, em cerimônia
reservada à família. O filho Sérgio informou que as cinzas serão jogadas na
Baía de Guanabara, atendendo a um desejo da cantora. (Agencia Brasil)
Imagem: G.1