A polícia Federal deflagrou no início da manhã desta
quinta-feira (16) uma operação, chamada de Leviatã, para cumprir mandados de
busca e apreensão nas casas e escritórios de pessoas investigadas por propina
na construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. A Leviatã se baseia
em provas coletadas na Operação Lava Jato.
Entre os alvos da operação, segundo a Polícia Federal, estão
o ex-senador pelo PMDB do Pará Luiz Otávio e o filho do senador Edison Lobão
(PMDB-MA), Márcio Lobão. Os mandados da Leviatã foram expedidos pelo ministro
Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal.
As buscas estão relacionadas a um inquérito que corre no STF
para investigar pagamento, por parte das empresas do consórcio de Belo Monte,
de 1 dos valores das obras da usina ao PT e ao PMDB.
O ex-ministro do STF e antigo relator da Lava Jato, Teori
Zavascki, morto em janeiro, havia separado investigações sobre corrupção no
setor elétrico, o chamado [eletrolão], da operação original, que apura fraudes
na Petrobras. O inquérito sobre Belo Monte já estava sob relatoria de Fachin
antes mesmo de ele suceder Zavascki como relator da Lava Jato.
O G1 tenta contato com Márcio Lobão e Luiz Otávio, mas ainda
não havia conseguido resposta até a última atualização desta reportagem.
A PF no Pará informou ter apreendido um computador, DVDs e
outras mídias, mas não especificou o local onde esses materiais estavam.
Segundo a Polícia Federal, os investigados da Leviatã podem
responder pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização
criminosa.
A PF explicou ainda que a operação tem o nome de [Leviatã]
em referência à obra do filósofo Thomas Hobbes, que afirmou que o homem era [o
lobo do homem].
Histórico
Em maio de 2016, o STF autorizou abertura de inquérito para
investigar Edison Lobão por desvios na obra de Belo Monte. À época do pagamento
das supostas propinas ele era ministro de Minas e Energia.
Em junho, foi aberto inquérito, pelo mesmo motivo, para
investigar os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR), Valdir
Raupp (PMDB-RO) e Jader Barbalho (PMDB-PA).
Todos são suspeitos pela prática de corrupção passiva e
lavagem de dinheiro, por suposto recebimento de propina em contratos da obra.
A investigação das suspeitas de pagamento de propina na
construção da hidrelétrica de Belo Monte foi autorizada por Fachin com base na
delação premiada de Luiz Carlos Martins, funcionário da empreiteira Camargo
Corrêa, dentro da Operação Lava Jato.
As suspeitas sobre Calheiros, Jucá, Raupp e Barbalho
surgiram nos relatos feitos pelo senador cassado Delcídio do Amaral (sem
partido-MS) no acordo de delação premiada assinado por ele.
O procurador-geral ressaltou ao Supremo que Luiz Carlos
Martins apontou somente Edison Lobão como beneficiário de vantagens indevidas,
mas que Delcídio mencionou outros supostos destinatários da propina.
Na época da abertura dos inquéritos, todos os investigados
negaram recebimento de dinheiro ilegal.
O leilão da hidrelétrica foi vencido pela Norte Energia,
formado pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) – subsidiária da
Eletrobras -, Construtora Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, entre outras
empresas. Entretanto, a Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht acabaram
contratadas para a construção da usina.
Maior projeto brasileiro no setor elétrico, Belo Monte tem a
conclusão das obras prevista para janeiro de 2019. O investimento estimado é de
R$ 28,9 bilhões. (Gabriel Palma e Mariana Oliveira, TV Globo, Brasília)
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil