Guardada a sete chaves pela Procuradoria-Geral da República
e pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a lista dos políticos que serão investigados
com base nas delações da Odebrecht é o mais novo pesadelo de partidos e
centenas de autoridades brasileiras. Mas um ponto em comum une os alvos das
investigações já antecipados pela imprensa: quase todos eles aparecem nos
papeis apreendidos pela Polícia Federal, em fevereiro do ano passado, na casa
do então presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa Silva
Junior, no Rio. É o caso, por exemplo, dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), o [Botafogo]; e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), o [Índio]; do
ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, o [Primo]; e do governador Geraldo
Alckmin (PSDB-SP), o [Santo], dados como certos entre os investigados.
As planilhas apontavam mais de 300 nomes de políticos, com
registros de valores e anotações à mão e até apelidos. Entre eles, grande parte
das principais lideranças políticas nacionais, incluindo chefes de Executivo
das unidades federativas economicamente mais fortes do país: são mais de 80
parlamentares, ministros e governadores (clique no link para ver a lista) – dos
governistas PMDB, PSDB e DEM aos oposicionistas PT e PCdoB.
Ainda não se sabe quantos, muito menos quais desses
políticos, estão na mira dos 83 pedidos de abertura de inquérito (procedimento
preliminar que pode resultar em processo) enviados pelo procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, ao ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava
Jato, na última terça-feira (14). Também não é conhecido o número de
autoridades que serão investigadas, pois um mesmo inquérito pode apurar a
responsabilidade de vários suspeitos. A divulgação dos nomes ainda depende de
Fachin, a quem cabe autorizar as investigações e avaliar a quebra de seus
respectivos sigilos, solicitada por Janot.
A lista dos políticos que aparecem nos documentos da
Odebrecht foi publicada em primeira mão pelo Congresso em Foco em março do ano
passado. Foram feitos cruzamentos para identificar datas, nomes e locais
constantes das versões originais, além da eliminação de erros de grafia e da
decodificação de certos apelidos. Na relação atualizada nesta quinta-feira (16)
pelo site, com a inclusão de alguns nomes que só foram identificados
posteriormente, há pelo menos dez ministros do atual governo, 18 senadores e 47
deputados e nove governadores. Eles negam irregularidades. A maioria diz que as
doações foram legais.
A citação nas planilhas da Odebrecht – a maior parte
relativa a doações para a eleição municipal de 2012 ? foi um dos pontos de
partida dos procuradores para ouvir os 77 ex-executivos do grupo que fizeram
acordo de delação premiada. Os representantes do Ministério Público tomaram
mais de 900 depoimentos e levaram em conta várias outras revelações para
encaminhar cada caso. Nessa fase, outros nomes foram citados por delatores como
beneficiários de repasses do grupo. O aprofundamento das investigações vai indicar
o que foi doação legal de campanha, o que foi caixa dois e o que foi propina.
Além da instauração de inquéritos, o procurador-geral
solicitou 211 declínios de competência para outras instâncias da Justiça nos
casos que envolvem suspeitos sem prerrogativa de foro no Supremo, como os
ex-presidentes Lula e Dilma, além de sete arquivamentos e outras 19
providências.
Os inquéritos envolvendo governadores, por exemplo, deverão
ser encaminhados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Além de políticos com
foro em Brasília, também aparecem nos registros ex-ministros de Dilma e Temer,
ex-parlamentares, ex-governadores, prefeitos, deputados estaduais, vereadores e
outros políticos sem mandato. A equipe do ministro Edson Fachin ainda avalia os
pedidos do procurador-geral da República. A expectativa é que os nomes da [nova
lista de Janot] venham a público até a próxima semana. (Congresso em Foco)
Foto: Félix Gilmar/Ag. Câmara