Em um vídeo postado nas redes sociais na manhã desta
quarta-feira, 22, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) critica a
tentativa de os congressistas aprovarem uma reforma política que garanta seus
privilégios e os livrem das implicações de eventuais inquéritos no âmbito da
Operação Lava Jato. Segundo FHC, tanto os partidos quanto os políticos estão
[mal das pernas] e, por isso, ele não acredita que este seja o momento adequado
para se aprovar a tese da lista fechada porque isso pode [cheirar a impunidade].
[Reforma política viável hoje é aprovar o que já está na
Câmara, tem leis importantes já aprovadas pelo Senado], disse, citando a que
proíbe coligação nas eleições de deputados e de vereadores. Ele explica que,
por esse princípio, o eleitor vota em um candidato e acaba elegendo outro. [Se
dois partidos se coligam, você não sabe em quem está votando, pelo quórum eleitoral.
Então, é melhor proibir.]
O ex-presidente continua: [Em segundo lugar, é muito
importante também que haja uma lei que diga: olha, um partido que não recebeu x
votos em tais números de Estados não vai ter representação na Câmara. Não tem
vantagens na Câmara, porque não é partido, tentou ser partido.]
Em uma espécie de [mea-culpa], Fernando Henrique avalia: [Os
nossos partidos, hoje, vamos falar com franqueza, vão muito mal das pernas. Os
políticos, todos, estamos mal das pernas. Então, não acho que seja o momento de
fazermos propostas.] E cita a reforma política em discussão no parlamento, com
foco na lista fechada e na anistia à prática de caixa 2.
Ao falar da proposta de lista fechada, o presidente de honra
do PSDB diz que a direção do partido é quem vai escolher quem serão o primeiro,
segundo e terceiro eleitos e o povo vai votar em partidos. E critica: [Mas o
povo nem sabe os nomes dos partidos. Não são partidos, a maioria, são legendas.
E mais: não dá para aprovar nada que tenha cheiro de impunidade. Essa é uma lei
que tem o objetivo de evitar que a Lava Jato vá adiante, não pode.]
Na avaliação de FHC, quem praticou crimes ou errou deve ser
punido e as leis estão aí para isso. [Depende do que fez. Fez corrupção, ganhou
dinheiro porque tirou dinheiro da Petrobras ou porque recebeu dinheiro de uma
empresa para fazer uma lei a favor desta empresa? É crime de corrupção. E não declarou?
É falsidade ideológica], exemplificou.
No vídeo de cerca de dois minutos, o presidente de honra do
PSDB também fala da prática de caixa 2: [Caixa 2 também é crime, mas é outro
tipo de crime, está capitulado no Código Penal. Deixa que a Justiça separe o
que é caixa 2, o que é crime de corrupção. O que pode ser punido com a não
eleição e o que vai para a cadeia. Não somos nós, os políticos ou os lideres nacionais,
que vão opinar. Quem tem de opinar nessa matéria é a Justiça, nós temos de dar
força às instituições porque o Brasil neste momento não acredita mais em quase
nada. Então, vamos, pelo menos, fazer com que as instituições valham.]
No início deste mês, em nota divulgada à imprensa, para
defender o correligionário Aécio Neves, o ex-presidente relativizou a
utilização do caixa 2 nas campanhas eleitorais, destacando que havia diferença
entre os recursos recebidos para financiar campanhas políticas ? [um erro que
precisa ser reparado ou punido], e os recebido pelos partidos por fora, para
enriquecimento pessoal ? [crime puro e simples de corrupção].
Na defesa do senador mineiro, FHC disse que ele não pediu
doação de caixa 2 para aliados e que o próprio Marcelo Odebrecht havia
declarado que as doações à campanha presidencial tucana de 2014 foram feitas
dentro da legalidade. (AE)
Foto: Daniel Teixeira Estadão