DEM [SUAVIZA] IDEÁRIO DE DIREITA PARA ATRAIR DEPUTADOS INSATISFEITOS

Alçado ao comando da Câmara com o deputado Rodrigo Maia
(RJ), o DEM voltou a sonhar com a Presidência. Nos bastidores, o antigo PFL
(também já foi Arena e PDS) prepara uma recauchutagem pragmática. O objetivo
imediato é se tornar um dos maiores no Congresso, recebendo deputados
insatisfeitos em suas legendas. O plano de fundo, porém, passa por suplantar o
PSDB, aliado histórico, para eleger oito governadores e tentar alcançar, de
forma inédita, o Palácio do Planalto.

Há 28 anos o DEM não consegue nem apresentar um candidato ao
Planalto – duas gerações de eleitores nunca puderam votar num político do
partido para presidente. O último foi Aureliano Chaves, em 1989.

Na era petista, o DEM passou 13 anos no extremo da oposição
e regrediu no perfil parlamentar. Se chegou a 105 deputados em 1998, elegeu
apenas 21 em 2014. Passou por uma cisão liderada pelo ministro Gilberto Kassab
(Ciência e Tecnologia) em 2011, que deu origem ao PSD, e chegou a arquitetar
uma fusão fracassada com o PTB, em 2015.

Hoje, tem 30 deputados e nenhum governador. Seu único
integrante de relevância no Executivo é o prefeito de Salvador, ACM Neto. [A
prioridade é desenvolver um projeto presidencial. Se não der tempo, estamos
abertos a conversas com todo mundo, desde que haja convergência de visões], diz
Neto.

Maia tem sido o articulador da migração dos parlamentares. A
meta é reunir entre 50 e 60 deputados. A maioria dos insatisfeitos vem de uma
dissidência do PSB, como Danilo Forte (CE), Tereza Cristina (MS), Fabio Garcia (MT)
e Heráclito Fortes (PI). Também há afinidade com nomes do PSDB, PSD e PMDB. [Os
acordos regionais estão fechados e não há conflito ideológico nem programático],
diz o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN).

A estratégia do DEM para receber insatisfeitos do PSB é
[suavizar] seu ideário de direita, trabalho do qual participam os ex-ministros
Gustavo Krause e Roberto Brandt, o economista Marcos Lisboa e o ex-prefeito do
Rio Cesar Maia. O DEM quer ocupar o centro no espectro ideológico, tendo como exemplo
o presidente francês, Emmanuel Mácron.

[O posicionamento do Bolsonaro à extrema direita desloca o
DEM para o centro. E o Lula, que já ocupou o centro no governo, voltou o
pêndulo para a extrema esquerda, com apoio ao Maduro na Venezuela], diz o líder
do partido na Câmara, Efraim Filho (PB).

Nos rascunhos de um manifesto que planejam divulgar entram
temas que eles consideram palatáveis à classe média. [Seremos intolerantes com
o crime], diz trecho no qual a reportagem teve acesso. Outras propostas são ter
menos ideologia na educação, retomada do emprego, flexibilização do estatuto do
desarmamento e redução do tamanho do Estado.

Um dos entraves do DEM é não ter um presidenciável com popularidade.
A opção, hoje, seria [receber] nomes com afinidade, como o ministro da Fazenda,
Henrique Meirelles, hoje no PSD, e o prefeito tucano João Doria. Semana
passada, em Salvador, ACM Neto jantou com Doria, que depois confirmou o
[interesse] do partido. (AE)

Foto: Divulgação