O Bolsa Família divide a opinião de integrantes do
Programa das Nações Unidas. Para o escritório brasileiro do PNUD, o principal
programa de transferência de renda do governo federal é um exemplo sem
ressalvas para ser seguido por outros países. O escritório internacional do
organismo em Nova York, no entanto, avalia que a estratégia é eficaz, mas a
maior parte de seus efeitos são de curto prazo.
A polêmica foi reconhecida pelo próprio coordenador do PNUD
no Brasil, Jorge Chediek. Temos uma discrepância com nossos colegas que
elaboraram o relatório. Há uma visão externa e uma visão de nosso escritório,
disse. Chediek afirmou que para o grupo brasileiro, o Bolsa Família é um piso
importante da rede de proteção social. O programa está bem desenhado.
Para representantes do PNUD que trabalharam no texto
final, no entanto, o Bolsa Família é uma ferramenta especialmente para
situações emergenciais. Mas a nossa avaliação prevalece. O debate está
praticamente decidido, afirmou Chediek. Ele ainda comentou a crítica da
oposição ao governo brasileiro de que o programa não tem porta de saída. O
coordenador do PNUD avaliou que os beneficiários têm dificuldades de sair do
programa porque contam com capital social muito baixo, vivem em regiões de
poucas oportunidades econômicas e não possuem um bom nível educacional.
Embora faça referências elogiosas ao programa ? como
garantir a maior permanência de crianças na escola -, os especialistas
internacionais da ONU não acompanham a empolgação de Chediek. Eles destacam que
o Bolsa Família foi elaborado para resolver problemas a curto prazo. Por outro
lado, eles citam efeitos protetores da estratégia comprovados desde a crise de
2008. Foi o programa de transferência de renda, afirmam os autores, que ajudou
a reduzir o impacto do aumento de preços registrado após a crise internacional.
O programa também teve um peso importante para a queda de 16 da extrema
pobreza. (Lígia Formenti e Leonencio Nossa/Agência Estado)