Lideranças cobram quase R$ 50 mil para campanha em bairro de Salvador

Acostumada a lidar com
toda sorte de pessoas ao longo de sua vida como magistrada, a ex-ministra do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) e atual candidata ao Senado pelo PSB, Eliana
Calmon, tem convivido com outro perfil de gente: a que tenta vender voto.
Durante visita à Tribuna da Bahia, a socialista voltou à carga contra
lideranças comunitárias que tentam fazer da política um balcão de negócios.

?Essas lideranças fazem
uma planilha de custos e estabelecem pagamento de 50 adiantado e ainda compõem
outras cláusulas. Eles cobram para fazer a campanha e conseguir os votos, mas
no texto diz ainda que a boca de urna não está inserida, seria outro acerto.
Boca de urna é crime. Essa proposta veio escrita e está muito bem organizada.
Eu acho que isso representa um perigo?, alertou.

A candidata tinha em mãos
uma planilha com especificações dos valores que serão gastos com alimentação de
equipe, lanches, condução e outras atividades. A proposta para a realização de
campanha no bairro da Suburbana, em Salvador, por exemplo, conforme o
documento, custa R$ 47.888.

Desse valor, R$ 35 mil
é embolsado pela liderança e R$ 1.200 fica restrito ao pagamento de pessoas que
ficarão com as bandeiras, 30, que receberão R$ 40 cada uma, além de outras
atividades.

Já para realizar as
movimentações na Ilha de Vera Cruz o valor é menor: R$ R$ 25.972. Ou seja, se o
candidato quiser o apoio do líder, ao invés de demonstrar propostas e tentar de
alguma forma convencê-lo a votar por ideologia e apoiar sua candidatura pelo
benefício do bem comum, ele só teria que desembolsar, para conseguir eleitorado
nos dois lugares, um total de R$ 73.860

Eliana ressaltou que o
caso não foi o primeiro e constantemente recebe propostas de todos os tipos e
com valores ainda maiores do apresentado no texto. ?As proposições seguem a
seguinte linha: eu consigo cinco mil votos, mas preciso de um valor, pois terei
despesas disso e daquilo. Nós sempre afirmamos que nós não temos e mesmo que a
gente tivesse dinheiro não faríamos, de forma alguma, esse tipo de política?,
complementou.

Conhecida pelo trabalho
combativo da corrupção dentro do sistema judiciário brasileiro, a socialista,
que resolveu ingressar na política após se aposentar do Superior Tribunal
Justiça, ainda defendeu o fim da realização da campanha por interesses,
chefiada, segundo ela, através do dinheiro das benesses.

 ?Isso é uma forma antiga de se fazer política
e eles estão viciados. É um vício que nós estamos sustentando há anos e isso
está ficando cada vez mais ousado. Está na hora de dar um basta. Queremos
percorrer um caminho novo, em busca de pessoas que estão desiludidas da
política por conta dessas e de outras ações. Nós não pagamos a lideranças?,
garantiu.

?Diante dessa situação, por outro lado, recebo apoio de
profissionais liberais que não querem nenhuma benesse, querem resgatar a ética
perdida e a confiança na política?, encerrou. (Bocão News)