Os autores do pedido de libertação do ex-presidente Lula já
previam uma derrota, mas articularam uma ação minuciosa para desgastar a
Justiça e tentar converter em ganho político qualquer decisão contra o petista.
Os deputados Paulo Pimenta (PT-RS), Wadih Damous (PT-RJ) e
Paulo Teixeira (PT-SP) elaboraram estratégia para que o pedido de habeas corpus
fosse analisado necessariamente pelo desembargador Rogério Favreto, crítico a
Sergio Moro no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) e o plantonista
da corte entre os dias 4 e 18 de julho.
O cálculo dos petistas foi premeditado: no início da semana
passada, um amigo avisou Pimenta de que a escala de plantões havia sido
publicada no site do TRF-4 e que Favreto, amigo de longa data do deputado,
seria o responsável pelo tribunal no segundo fim de semana deste mês.
Pimenta então procurou Damous, ex-presidente da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil) do Rio, e disse que era preciso elaborar uma medida
que pudesse cair nas mãos do magistrado. Na quarta-feira (4), decidiu-se pelo
habeas corpus em reunião na sala da liderança do PT na Câmara.
[Sou do Rio Grande do Sul. Conheço as pessoas. Alguém me deu
o toque. Olhei no sistema e vi [que Favreto seria o plantonista]. É público],
relatou Pimenta, sem dar detalhes sobre a identidade do amigo.
A previsão dos deputados era a de que a decisão de Favreto,
favorável a Lula, seria cassada em poucas horas, mas que episódio ilustraria a
tese de que o Judiciário age para prejudicar o ex-presidente.
Já a ação de Moro que, de férias em Portugal, telefonou para
delegados da Polícia Federal e pediu que não cumprissem a ordem do
desembargador foi contabilizada como uma espécie de bônus político para o
petista.
[Pudemos demonstrar que a Lava Jato é uma organização que
atua dentro do Judiciário, com relações políticas, e que seu objetivo é impedir
que Lula seja solto], disse Pimenta.
A defesa formal do ex-presidente foi sondada e não reagiu
bem. Os advogados queriam que o recurso fosse feito de outra maneira, em outra
data, visando menos o ganho político, e mais o judicial.
Os parlamentares petistas decidiram, então, tocar a proposta
sem o aval dos defensores de Lula e impetraram o recurso no TRF-4 após o início
do plantão de Favreto.
Na sexta (6), o expediente do TRF-4 encerrou-se às 14h, em
razão do jogo do Brasil na Copa e, assim, qualquer pedido protocolado a partir
deste horário ficaria com Favreto.
Os parlamentares petistas decidiram, então, tocar a proposta
sem o aval dos defensores de Lula e impetraram o recurso no TRF-4 após o início
do plantão de Favreto.
Na sexta (6), o expediente do TRF-4 encerrou-se às 14h, em
razão do jogo do Brasil na Copa e, assim, qualquer pedido protocolado a partir
deste horário ficaria com Favreto.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, Lula estava cético quanto à
possibilidade de sair da prisão desde a primeira decisão do desembargador e
disse, ainda no meio da manhã de domingo (8), que nunca acreditou que a
determinação fosse ser realmente cumprida.
Durante reunião nesta segunda (9) em São Paulo, dirigentes
da sigla elaboraram um calendário de mobilizações pelo país e houve quem
defendesse que o partido coloque na rua o quanto antes um programa com 13
pontos que dialogue com o eleitor.
As medidas devem extrapolar a defesa de Lula e tratar da
ideia de que libertar o ex-presidente é libertar o país de políticas que
retiram direitos dos trabalhadores.
A tese mais repetida foi a de que Moro ficou muito exposto
ao se manifestar, de férias, contra a soltura do ex-presidente e que agora é
preciso investir na imagem de vitimização de Lula para que sua força política
seja refletida nas pesquisas e, principalmente, repassada a um candidato
petista quando ele for declarado inelegível pela Justiça Eleitoral.
Preso ou solto, Lula permanece ficha suja e assim impedido
de concorrer na eleição presidencial.
A cúpula do PT decidiu também entrar com nova representação
contra Moro no CNJ (Conselho Nacional de Justiça), pedindo o afastamento do
juiz. A anterior, referente à quebra do sigilo telefônico da então presidente
Dilma Rousseff, foi arquivada na semana passada.
Segundo a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o partido
entrará com uma representação na Corregedoria da Polícia Federal contra os
agentes que mantiveram Lula preso. (Diário do Poder)
Foto: Youtube