O consumo de etanol nas bombas dos postos de combustíveis do
Estado de São Paulo alcançou, pela primeira vez, neste mês de setembro a mesma
proporção da gasolina. Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista
de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro), José Alberto
Paiva Gouveia, 50 das vendas foram de etanol e 50 de gasolina. Até hoje, o
que se verificava era um escoamento médio de 60 de gasolina.
O empresário informou que essa migração já vem ocorrendo
desde [a greve dos caminhoneiros, em maio último {que levou ao
desabastecimento} em paralelo com as subidas constantes da gasolina]. Ele
informou que o consumo mensal nas cidades paulistas atinge 180 bilhões de
litros somando a gasolina, o álcool e o diesel. E sempre que o valor do litro
de álcool equivale a 70 do preço da gasolina, abastecer com o derivado da cana
fica mais competitivo. O litro de gasolina está custando em média R$ 4,57 em
São Paulo, enquanto o de etanol vale R$ 2,74 – 59 mais barato.
Na avaliação da pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas em
Energia, Fernanda Delgado, a greve dos caminhoneiros continuará ainda por algum
tempo [reverberando na economia do país]. Ela, no entanto, pondera que o grande
impacto sobre o preço da gasolina, que já subiu 15 desde maio último, está
associado mais à pressão das cotações no mercado internacional. O valor do
barril de petróleo, passou, nesse período, de US$ 65 para US$ 75. A tendência,
pontuou a pesquisadora, é de alta no mundo todo.
Delgado defende que o Brasil poderia ser menos dependente
dessa política de preços internacionais caso houvesse a quebra do monopólio da
Petrobras, que detêm 98 do refino dos derivados de petróleo. A questão, porém,
explica, esbarra em criar um sistema que possa atrair os investidores.
Oferta de álcool
Em relação à vantagem competitiva de se abastecer o carro com álcool, a
pesquisadora da FGV Energia disse que esse quadro é favorecido pela perspectiva
de uma boa oferta do etanol no mercado. Mas ela alerta sobre a possibilidade de
uma mudança no mix de produção, caso ocorra uma sinalização de alta dos preços
do açúcar no mercado internacional. Isso poderia levar as usinas a destinarem
uma maior parte da safra para essa commodity.
Já o diretor técnico da Unica, entidade que congrega as
usinas sucroalcooleiras da região Centro Sul, Antonio de Padua Rodrigues,
descartou, nesta quinta-feira o risco de um desequilíbrio de preços do etanol
em função da demanda mais aquecida. Ele informou que o setor está em plena
safra e com estimativa de recorde na produção, podendo chegar a 32 bilhões de
litros e um crescimento na oferta entre 4 a 5 bilhões de litros.
Pádua reconhece, contudo, que algum ajuste de preço pode até
ocorrer, mas se isto se confirmar será em margem bem pequena diante da boa
oferta. [Nossa expectativa é que a distribuição para os postos passe da média
de 1,8 bilhões de litros para 2 bilhões de litros], afirmou, referindo-se ao
próximo anúncio da Agência Nacional de Petróleo (ANP).
Fazendo uma análise sobre a vantagem competitiva do álcool
sobre a gasolina, Pádua observou que enquanto o derivado da cana vem se
mantendo com preço estável pela boa safra que deve crescer em torno de 15, a
gasolina está sujeita às variações impostas tanto pelos fatores externos quanto
pela pressão cambial. Nos últimos dias, a moeda norte-americana tem oscilado
acima dos R$ 4,00 e fechou nesta quinta-feira em R$ 4,07 um recuo de 1,27
sobre a cotação de ontem (19).
No último dia 5 de setembro, o preço da gasolina nas
refinarias havia alcançado R$ 2,2069, no maior valor desde junho do ano
passado, quando a Petrobras mudou a política de preços e passou a acompanhar as
oscilações do preço da commodity no mercado externo. (ABr).
Foto: EBC