Após 18 meses presos em Cabo Verde, velejadores brasileiros voltam para casa

Um ano e meio depois de iniciarem uma jornada em um
veleiro rumo à Ilha da Madeira, Portugal, os velejadores brasileiros Rodrigo
Dantas, Daniel Dantas e Daniel Guerra retornaram ao Brasil na madrugada desta
quinta-feira (14).

Os três brasileiros, além do capitão francês Olivier Thomas,
foram presos em agosto de 2017 em Cabo Verde sob a acusação de tráfico
internacional de drogas, após a polícia ter encontrado mais de uma tonelada de
cocaína dentro do casco do veleiro.

Eles desembarcaram em Salvador na madrugada desta quinta
depois de terem passado 18 meses presos e sem poder retornar ao Brasil.

Foram recebidos com festa no aeroporto por familiares e
amigos, que nos últimos anos fizeram uma ampla mobilização pela absolvição dos
velejadores.

[Foi um grande pesadelo], resumiu o gaúcho Daniel Guerra ao
comentar sobre o tempo que ficou na prisão. Ele, Daniel Dantas e Rodrigo
Dantas alegam que são inocentes e foram condenados sem provas.

Eles deram detalhes do dia a dia na prisão, destacando
restrições como só poderem ir ao banheiro três vezes por dia e ter que usar
baldes improvisados nas celas em caso de necessidade fora dos horários
preestabelecidos.

Rodrigo Dantas e Daniel Guerra dividiram a cela com um
suspeito de assassinato, enquanto Daniel Dantas ficou em outra cela separada na
cadeia pública de São Vicente, segunda maior ilha de Cabo Verde.

Os três velejadores brasileiros foram detidos em agosto de
2017 após fazer uma parada técnica em Cabo Verde. Eles tinham sido
contratados para fazer um serviço de delivery – entrega da embarcação em outro
país – de um veleiro de propriedade do britânico George Edward Saul.

Os brasileiros e o francês foram inocentados no inquérito da
Polícia Federal brasileira – em julho do ano passado, até o então presidente
Michel Temer pediu ao presidente de Cabo Verde mais atenção ao processo.

A Justiça de Cabo Verde, contudo, os condenou a dez anos de
prisão. Há cerca de um mês, contudo, a sentença foi anulada.

A decisão reconheceu que houve violações à garantia de
defesa dos réus no processo e determinou que seja realizado um novo julgamento.
Com a nova decisão, os brasileiros foram soltos.

O processo será retomado na primeira instância e os
brasileiros foram autorizados a retornar ao seu país enquanto o caso tramita.

Com a previsão de novo julgamento, os velejadores defenderam
que a Justiça de Cabo Verde ouça as testemunhas brasileiras, sobretudo as
pessoas que trabalharam na reforma do barco e o delegado que conduziu as
investigações no Brasil.

[Essas pessoas são essenciais para o estabelecimento da
verdade], afirmou o velejador baiano Rodrigo Dantas, que se disse otimistas em
relação ao andamento novo processo.
Com a volta ao Brasil, os velejadores também reiteraram o desejo de tão logo
voltar a navegar. 

[Não é uma tempestade dessas que vai acabar o nosso amor
pela vela. Não sei se vamos fazer delivery, mas com certeza vamos continuar no
meio náutico], disse Daniel Guerra. (Folha Press).

Foto: BNews