Nesse confronto, a polarização PT e PSDB, tão criticada
por Marina Silva na construção da sua candidatura, voltou a dominar o cenário.
Na maior parte do debate, Dilma e Aécio confrontaram números e iniciativas para
defender o legado dos governos petista e tucano, dominantes desde a eleição de
1994. Eles repetiram, assim, o roteiro das últimas eleições. A presidenta
citava números sobre emprego, renda, benefícios sociais e criticava os
antecessores pela situação precária dos bancos públicos e por curvarem o país
diante do FMI. O tucano citava o espólio de FHC, a quem teceu elogios, e
prometia aperfeiçoar os projetos bem-sucedidos dos adversários. Em certo
momento, disse não ter problemas em reconhecer os acertos do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, que praticamente não figurou na fala da petista. Eles
passaram longos minutos a debater a paternidade do Bolsa Família.
Nos momentos mais tensos, Aécio citou as investigações
na Petrobras, e Dilma, como em outros debates (e outras eleições), tentava
associar os tucanos à pecha de privatistas. O senador defendeu as privatizações
de setores estratégicos e disse que o sistema de telecomunicações e a Embraer
estariam piores hoje se estivessem nas mãos do PT. Dilma retrucou: ela
relembrou a declaração do ex-diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sergio
Oliveira, segundo quem o governo tucano atuava ?no limite da
irresponsabilidade? durante as privatizações. A declaração fora interceptada em
1998, quando ele debatia com o ex-ministro Luis Carlos Mendonça de Barros a
participação dos fundos de pensão na compra da Telebrás. A estratégia conteve o
ataque tucano, mas o caso era antigo (e cifrado) demais mais arrebanhar votos a
essa altura do campeonato.
O tucano voltou às farpas com a rival ao citar a saída
da Petrobras do ex-diretor da companhia Paulo Roberto Costa, preso e
investigado no esquema de propina da Operação Lava Jato. Ele disse que Dilma
mentia quando afirmava ter demitido o dirigente. Argumentava que o ex-diretor
era quem havia pedido afastamento do cargo após as investigações. O bate-boca
ficou se estendeu noite afora, sem chegar exatamente a algum lugar.
Aparentemente mais confiante do que em outros
confrontos, Aécio centrou sua fala em Minas Gerais, onde chegou a figurar em
terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, e fez referências ao avô,
Tancredo Neves, em sua despedida. Também falou mais, dessa vez, sobre sua
experiência como governador.
Em um dos poucos confrontos diretos com o tucano, Marina
o acusou de se unir ao PT para atingi-la. ?O primeiro mensalão aconteceu em seu
partido quando votou a emenda da reeleição?, disse ela. Aécio respondeu que um
|mensalão| havia sido investigado e levado os dirigentes à prisão. O outro não
resultou em acusação. O |mensalão| tucano, esquema de distribuição de recursos
públicos denunciado pelo Ministério Público Federal para irrigar a campanha à
reeleição de Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas, não foi explorado.
Como parte de sua estratégia na reta final de campanha,
Marina anunciou uma proposta para garantir o pagamento de um 13º do Bolsa
Família, para |os usuários terem o que comer na ceia de Natal|. Ela foi
acusada, ao longo da campanha, de colocar em risco o programa de transferência
de renda. A candidata elevou o tom contra a presidenta e a acusou de omissão
diante das suspeitas na Petrobras. Dilma lembrou que, quando Marina era
ministra do Meio Ambiente, um diretor do Ibama foi afastado por desvio de
dinheiro. |Nem por isso eu saio dizendo que a senhora estava ciente do que
acontecia.|
Nervosa, Marina mais de uma vez deu emendou o discurso
quando o som de seu microfone já havia sido cortado por ter extrapolado o tempo
de resposta.
O debate teve também um embate tenso entre o tucano e a
candidata do PSOL, Luciana Genro. Ela voltou a dizer que PT e PSDB eram o |sujo
falando do mal lavado| Aécio a chamou de leviana e disse que ela não tinha
preparo para governar o Brasil.
Genro chegou a provocar a presidenta Dilma sobre temas
incômodos, como a questão do aborto e a taxação de grandes fortunas. A petista
desconversou.
A exemplo de Eduardo Jorge (PV), a candidata do PSOL não
perdeu a oportunidade de provocar Levy Fidelix, candidato do PRTB que defendeu
o combate à comunidade gay durante o debate da TV Record. Ele foi ignorado
pelos demais candidatos. Fidelix manteve o discurso do último domingo e disse
que os adversários não tinham estatura para falar com ele porque defendiam o
uso de drogas pela juventude. Genro afirmou que o candidato deveria ter saído
algemado do último encontro. Jorge, por sua vez, disse que Fidelix envergonhava
o País. |Quem envergonha é você, cara. Vire sua boca pra lá antes de falar
comigo|, respondeu. A eleição para o Grêmio Estudantil estava feita. Era a
despedida dos candidatos nanicos dos debates eleitorais de 2014.
Fonte: Blog do Matheus Pichonelli é jornalista e cientista social.
Trabalhou em veículos como Folha de S.Paulo, Gazeta Esportiva, portal iG e
CartaCapital, onde mantém uma coluna sobre sociedade.
Foto: Agencia Estado