O deputado Nelson Leal, já na
condição de presidente da Assembleia Legislativa da Bahia – ALBA, depois de ter
deixado, com o retorno do governador Rui Costa do exterior, a interinidade do
Governo do Estado, abriu oficialmente hoje (17), em Feira de Santana, o
Encontro de Revendedores de Combustíveis da Bahia, promovido pelo
Sindicombustíveis e com o apoio da Fecombustíveis, que tem, entre outras
atrações, a presença do jornalista William Waack, que irá palestrar sobre a “Conjuntura Econômica Brasileira”.
“William Waack, um jornalista
experiente e competente, certamente tem uma visão mais completa do que a minha
sobre a conjuntura, mas o que vejo e ouço é que a situação não é nada boa. E
olhe que ouço muita gente: empresário, trabalhador, rico, pobre, gente da
capital, gente do interior. Temos um exército de mais de 13 milhões de
desempregados, milhares de lojas e indústrias no país fechando, empresários
nacionais e estrangeiros sem segurança jurídica para investir. E qual é a
proposta do Governo Federal para tudo isso? Até agora, nenhuma”, criticou o
chefe do Legislativo baiano.
Nelson Leal disse que o Brasil
vive em uma espécie de letargia, em estado de suspensão, esperando que a
Reforma da Previdência seja o remédio para todos os nossos males. “Do jeito que
foi proposta e, pior ainda, do jeito que está sendo conduzida, essa reforma
previdenciária não resolverá é nada. Fala-se na economia de mais de R$ 1
trilhão em 10 anos, mas o mesmo valor, contudo, foi dado em isenções para as
petrolíferas estrangeiras explorarem o pré-sal. Por que é no lombo do
trabalhador rural, ou dos velhinhos e inválidos, que recebem o benefício da
prestação continuada (BPC), que a conta tem que ser cobrada? É injusto e
desumano”, diz Leal.
No seu discurso, em que agradeceu
o convite formulado pelo presidente do Sindicombustíveis, Walter Tannus
Freitas, o presidente da ALBA alertou para o risco que os próprios revendedores
de combustíveis da Bahia correm se a Reforma da Previdência for aprovada do
jeito que ela foi proposta. “Os empresários de revenda de combustíveis do
interior da Bahia sentirão diretamente a reforma, porque 313 municípios baianos
têm a sua economia dependente muito mais do BPC e da aposentadoria rural do que
mesmo com receitas do fundo de participação. Será um desastre para a Bahia”,
alertou o deputado.
Ainda sobre a Reforma da
Previdência, Nelson Leal disse que ela tem que ser feita, “mas tem que ser
bem-feita e, sobretudo, bem conduzida”. E voltou a criticar a proposta de
criação do regime de capitalização. “Isso até agora não foi explicado direito
pelo ministro Paulo Guedes, mas do jeito que está, será mais um desastre em um
país com tanta desigualdade social. Só tem um segmento que aprova e apoia esta
capitalização. E, sem meias palavras, esse setor é o dos bancos. Não podemos
esquecer que uma ministra da Economia nos vendeu a história do confisco da
poupança como milagroso e, no final, foi um desastre, comprometendo a vida de
milhares de famílias”, relembrou.
COMBUSTÍVEL LEGAL
A Assembleia Legislativa da Bahia
aprovou, no ano passado, projeto de lei que coíbe o comércio de diesel, álcool
e gasolina realizado por revendedores inidôneos que adulteram a bomba de
combustível. “No painel da bomba fraudada aparece para o cliente que o carro
foi abastecido com uma determinada quantidade de combustível, entretanto o
tanque do veículo foi enchido com uma quantidade menor. Constatada a fraude, a
Secretaria da Fazenda poderá aplicar a penalidade de cassação no cadastro de
contribuintes do ICMS. Com a punição, os responsáveis pela pessoa jurídica
ficarão impedidos, por cinco anos, de integrarem o quadro societário de postos
de combustíveis”, explicou Nelson Leal.
A discussão sobre o combustível
legal esteve entre as principais discussões do Encontro de Revendedores de
Combustíveis, em Feira. Outro ponto debatido foi o fim da proibição das
distribuidoras de combustíveis operar no varejo. “Será um desastre para o
setor, podendo afetar diretamente 60 mil empregos só na Bahia. E não se pode
comparar a realidade da distribuição de combustíveis no Brasil com os Estados
Unidos: são situações completamente distintas”, critica o presidente do
Sindicombustíveis-Bahia, Walter Tannus Freitas. (Ascom)
Foto:
ÍNTEGRA DO DISCURSO DO
PRESIDENTE NELSON LEAL NA ABERTURA DO ENCONTRO DE REVENDEDORES DE COMBUSTÍVEIS,
EM FEIRA DE SANTANA
Ao começar minha fala, quero
parabenizar o Sindicombustíveis, através do seu presidente, Walter Tannus
Freitas, e também a Fecombustíveis, pela realização deste Encontro de
Revendedores de Combustíveis da Bahia, aqui em Feira de Santana.
Li que o objetivo deste encontro
regional é preparar o revendedor para enfrentar os constantes desafios da
atividade.
É uma oportunidade para que
vocês, da revenda, esclareçam todas as dúvidas, façam sugestões e críticas aos
órgãos que fiscalizam diariamente os vossos negócios e entendam tudo o que se
passa.
Todos os segmentos empresariais
deste país deveriam estar fazendo isso que vocês, revendedores de combustíveis,
estão fazendo agora.
Discutindo de onde viemos e para
onde vamos neste país, que parece que se desencontrou e perdeu a sua paz
econômica, política e social.
Daqui a alguns instantes, vocês
ouvirão o experiente e competente jornalista William Waack falar sobre a “Conjuntura Econômica Brasileira”.
Certamente, Waack terá muito mais
o que dizer sobre o cenário econômico em que vivemos e, principalmente, o que
nos reserva o futuro.
Não sou economista, sou político,
mas sou uma espécie de caixa de ressonância da sociedade, porque ouço todo
mundo: ouço outros políticos, ouço empresários, ouço trabalhadores, ouço ricos,
ouço pobres, ouço gente da capital, ouço gente do interior.
E de todo mundo vem uma queixa,
que é quase uma unanimidade: não estamos nada bem.
Temos um exército de mais de 13
milhões de desempregados, milhares de lojas e indústrias no país fecharam ? ou
estão em vias de fechar.
Nenhum empresário nacional nem
investidor estrangeiro tem segurança jurídica para investir, expandir, ampliar.
Nas ruas e semáforos, a cada dia,
multiplicam-se os sinais dessa economia informal que transforma nossas cidades
em gigantescos mercados a céu aberto.
Em 1974, o economista Edmar Bacha
escreveu “O Economista e o Rei da Belíndia: uma fábula para tecnocrata”.
Bacha retratou o Brasil como uma
Bélgica pequena e rica, cercada por uma Índia gigantesca e pobre.
Hoje, passados 45 anos da
publicação do ensaio de Edmar Bacha, infelizmente temos que reconhecer: somos
muito mais Bombaim do que Bruxelas, mesmo a despeito dos notáveis progressos da
Índia na ciência & tecnologia.
Volto a dizer que não sou
economista e, por isso, não me arvoro a tentar explicar a vocês onde nos
perdemos no caminho.
Talvez – e já usando outra fábula – a de João e Maria, os passarinhos tenham comido os pedaços de pão que
deixamos na estrada para conseguirmos voltar para casa.
Agora mesmo, o país está em
suspensão, à espera de uma Reforma da Previdência – muito mal-conduzida pelo
Governo Federal – como se fosse o remédio de todos os nossos males.
Do jeito que foi proposta e, pior
ainda, do jeito que está sendo conduzida, não será.
Fala-se na economia de mais de um
trilhão de reais em 10 anos com a reforma. O mesmo valor, contudo, foi dado em
isenções para as petrolíferas estrangeiras explorarem o pré-sal. Como explicar
isso?
Por que é no lombo do trabalhador
rural, que moureja de sol a sol, que a conta da reforma tem que ser paga?
Por que é que a conta tem que ser
paga pelos velhinhos e inválidos, que recebem o benefício da prestação
continuada, o BPC?
Os postos de combustíveis do
interior da Bahia sentirão diretamente com a reforma, porque 313 municípios
baianos têm sua economia turbinada pelo BPC e pela aposentadoria rural, com
receitas superiores ao fundo de participação.
O regime de capitalização ? até
agora não explicado direito pelo ministro Paulo Guedes ? será mais um desastre
em uma país com tanta desigualdade social. Só tem um segmento que aprova e
apoia esta capitalização. E, sem meias palavras, esse setor é o dos bancos.
Não sou contra a reforma da
previdência. Ao contrário! Ela tem que ser feita, mas tem que ser bem-feita e,
sobretudo, bem conduzida.
Não se esqueçam que uma ministra
da economia nos vendeu a história do confisco da poupança. E a maioria aqui
presente se lembra dos danos causados. E isso, caros amigos e amigas, não é
fábula.
O Brasil tem que sair desse “samba de uma nota só”, que é a reforma da previdência, e mostrar soluções para
o desemprego, para investimentos em escolas mais dignas, para garantir a nossa
segurança pública, para investir em uma prestação de saúde melhor para a nossa
gente.
Temos que fazer, urgentemente, a
reforma tributária. Ouço isso desde menino e, até hoje, nunca saiu do papel.
Mas tem que ser discutida com todo mundo, tem que ser bem-feita e, mais uma
vez, volto a dizer: bem conduzida.
Na democracia, tudo tem que ser
negociado. Quem se submete às regras democráticas tem que saber disso. E como
não queremos, graças a Deus, mais ditadura e novos ditadores, na “tora”, no “grito”, ninguém ganha.
Não é fácil ser político nesses
tempos. E, muito menos, ser presidente de uma Assembleia Legislativa. Mas
político tem que ter, sobretudo, coragem, pois nossa função é nobre e decisiva
para a sua vida.
Se alguém faz mau uso da política
tem que ser punido. Mas a arte da política, a política como arte da negociação,
não pode ser punida: ela é fundamental para a tolerância neste mundo plural em
que vivemos.
Mas, não quero me alongar sobre
economia, reformas e política. William Waack e os outros palestrantes terão
muito mais para dizer aos senhores e senhoras.
Quero colocar a Assembleia
Legislativa da Bahia como uma casa aberta para os revendedores e para o
Sindicombustíveis, para debatermos assuntos de relevância, tanto para o
segmento quanto para o consumidor, porque, sem combustíveis – como já vimos –
esse país para de vez.
E não queremos parar: queremos
sair dessa marcha lenta, dessa pasmaceira que só atrasa o desenvolvimento do
Brasil. Queremos, de novo, pisar no acelerador e andar pra frente.
Seguir em frente, como disse o
líder norte-americano Martin Luther King: “Se não puder voar, corra. Se não
puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de
qualquer jeito.”
Tanque cheio e vamos em frente!
Um bom encontro e muitos bons
negócios para todos vocês, revendedores de combustíveis da Bahia!