VLT do subúrbio é tema de audiência

“Defender o trem é defender nossa
história, nossa formação e identidade culturais”. Com esse apelo, o deputado
Hilton Coelho (Psol) conduziu uma audiência pública, no Auditório Jornalista
Jorge Calmon, na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), com o objetivo de
discutir o projeto de implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) no
Subúrbio Ferroviário de Salvador no trajeto onde, atualmente, funciona o
tradicional trem. 

Pontos como o impacto do
equipamento, o valor da tarifa, as desapropriações das moradias do percurso do
VLT e a desativação dos atuais trens foram debatidos por representantes da
sociedade civil organizada e convidados que integraram a mesa da
audiência. 

Segundo o deputado Hilton,
proponente do encontro, os moradores do Subúrbio Ferroviário e os passageiros
devem ser ouvidos a respeito do projeto proposto pelo Governo do Estado. “A
gente precisa valorizar o nosso trem. Esse debate aqui é muito importante,
porque o Ministério Público já está convencido de que o processo tem que ser
todo questionado e que há estudos apontando que o modal deve ser trem”,
destacou o parlamentar, que reuniu na bancada do debate o coordenador geral da
Sociedade Nacional Trem de Ferro, Gilson Vieira; o presidente da Comissão de
Desenvolvimento Sustentável da Câmara Municipal de Salvador, vereador Marcos
Mendes; o representante da Associação Nacional dos Engenheiros e Técnicos
Ferroviários da Bahia e Sergipe, Rafael Vasconcelos; o representante da Associação
de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport), Adermes Pascoal Júnior; o arquiteto
e urbanista Carlos Alberto Quirino; o presidente da União Geral dos
Trabalhadores na Bahia (UGT), Magno Lavigne; a ouvidora geral da Defensoria
Pública do Estado da Bahia (DPE-BA), Sirlene de Souza; e o diretor do Sindicato
dos Ferroviários, Pedro França.

Gilson Vieira manifestou
preocupação com a chegada do VLT, pois deverá elevar o valor da tarifa, que
atualmente é de R$ 0,50 nos trens. “O projeto não tem estudo de impacto
ambiental, não tem estudo de vizinhança, de impacto social ou econômico.
É preciso preservar o trem. Trem é passado, presente e futuro”, defendeu.

O engenheiro Rafael Vasconcelos
disse que o trem sempre foi o meio de transporte mais eficiente. “No mundo
inteiro, se aproveita o que já existe para melhorar. É balela dizer que os
trens estão obsoletos. Sair do trilho para monotrilho é uma mudança radical. É
jogar fora o patrimônio que ali já existe”, disse, sugerindo que o VLT seja um
modal para interligar o metrô ao trem, ambos já existentes.

O arquiteto e urbanista Carlos
Alberto Quirino também defendeu que o VLT a ser implantado pelo Governo do
Estado faça a conexão entre modais já em operação. Na sua opinião, o Porto de
de Salvador precisa de um braço da malha ferroviária para ajudar no fluxo de
escoamento e chegada de produtos. 

A ouvidora geral da DPE, Sirlene
de Souza, se colocou à disposição dos moradores e passageiros do trem do
Subúrbio de Salvador para debater o assunto. “O desenvolvimento da Bahia tem
que ser acompanhado do desenvolvimento social, político, inclusivo. Então, é
preciso repensar como será esse processo, porque deve ter escuta popular, tem
que ouvir as lideranças. Esse empreendimento pode afetar e levar consequências
para o Subúrbio”, alertou a ouvidora.

Representante da Usuport, Adermes
Pascoal Júnior lembrou que o VLT vai destruir a estrutura do trem já existente
e chamou a atenção para a necessidade de se ter ferrovia perto das estruturas
portuárias. ?A opção do monotrilho simplesmente acaba com estrutura existente.
A ferrovia que chega a Salvador não serve apenas para mobilidade urbana para o
Subúrbio, para a cidade em si. Ela conecta Salvador a toda malha ferroviária
nacional. Quando a gente analisa a malha ferroviária da Bahia, ela é toda
programada para chegar ao Porto de Salvador?, explicou o economista, também
defendendo que o trem deve ser mantido. 

Pedro França, ferroviário há 43
anos, protestou contra a retirada do trem que atualmente atende ao Subúrbio e
listou uma série de possíveis consequências que a nova modalidade de transporte
poderá levar à região. Também engrossaram a tese de manutenção da malha
ferroviária autoridades como a vice-prefeita de Alagoinhas, Iraci Gama; o
vereador Emanoel, de Simões Filho; e o vereador Marcos Mendes, que propôs
audiências nos municípios para ampliar o debate sobre o fortalecimento e
recuperação das ferrovias baianas. (Agencia Alba).

Foto: CarlosAmilton/Agencia Alba