A seca em São Paulo deve continuar em 2015, desta vez
associada também ao desenvolvimento do fenômeno El Niño, afirmou o
secretário-geral adjunto da Organização Mundial de Meteorologia (OMM), Jeremiah
Lengoasa.
O aquecimento das águas equatoriais do Oceano Pacífico,
na altura do Peru e do Equador, provocará a formação de nuvens que tendem a ser
arrastadas pelos ventos na direção oeste. Mas não para a América do Sul,
explicou o cientista sul-africano, que participou ontem da abertura da 40.ª
Sessão do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, em inglês),
em Copenhague (mais informações abaixo).
|É a natureza tentando se modelar para atingir seu
normal|, declarou, em entrevista ao Estado. |Se entendermos melhor os padrões
de oscilação do fenômeno El Niño, poderemos prever de forma mais precisa e
tornar disponível essa informação para os governos e as populações a serem
atingidas. Mas a mudança do clima está tornando essa tarefa muito difícil.|
Lengoasa explicou que o fenômeno El Niño foi mais agressivo
entre 1997-98, quando provocou o aumento médio de 0,5 grau Celsius na
temperatura média mundial e levou a uma mudança severa na distribuição das
chuvas. Em 2010, voltou a apresentar-se de maneira intensa, mas não tão forte
como antes. ?Já há 70 de chances de o El Niño surgir muito cedo, ainda no
final deste ano. Se tiver o mesmo efeito de 97-98, isso será caracterizado por
uma imensa seca no mundo?, disse. |Mas ainda há possibilidade de ele não se
desenvolver de maneira tão forte.|
A OMM apresentará, nas próximas semanas, um relatório
preliminar sobre o comportamento meteorológico de 2014. O ano é considerado o
mais quente desde 2004, segundo análise dos dez primeiros meses, mesmo com os
efeitos em curso do fenômeno de resfriamento conhecido como La Niña. Durante
conferência neste mês, a organização estudará particularmente os dois
fenômenos, El Niño e La Niña, com especial atenção para o efeito do primeiro no
aquecimento das camadas mais profundas do Oceano Pacífico, abaixo de 2 mil
metros. Esses dados serão acrescentados aos modelos atuais de previsão do
clima. Em especial, para a melhor detecção de eventos extremos.
Recomendações. Para países que enfrentam eventos
climáticos extremos, como o Brasil, Lengoasa faz algumas recomendações.
Primeiro, fortalecer os serviços hidrometeorológicos, que oferecem as
informações sobre o clima. Segundo, de acordo com ele, os países devem
intensificar o diálogo entre diferentes ministérios sobre a mudança climática.
O apoio aos esforços mundiais, como o da 21.ª Conferência das Partes sobre
Mudança Climática (COP21), é sua terceira sugestão. A expectativa é de um
acordo sobre compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa na
COP21, em maio, em Paris. (Denise Chrispim Marin/AE)