O petroleiro grego suspeito de derramar o óleo que causa o
maior desastre ambiental nas praias do Nordeste se chama Bouboulina. Ele
carregou 1 milhão de barris do petróleo tipo Merey 16 cru no Porto de José, na
Venezuela, no dia 15 de julho. Zarpou no dia 18 com destino à Malásia.
As informações sobre o navio, sua carga e trajetória foram
fornecidos pela agência de geointeligência Kpler, a pedido do G1, com
base nos dados da Operação
Mácula, desencadeada pela Polícia Federal nesta sexta-feira (1º).
A embarcação Bouboulina passou a oeste da Paraíba em 28 de
julho, segundo um porta-voz da Kpler.
As investigações do governo brasileiro apontam que a
primeira mancha no oceano foi registrada em 29 de julho, a 733 km da costa da
Paraíba. As primeiras praias do país afetadas foram no município paraibano de
Conde em 30 de agosto.
O navio Bouboulina e a empresa grega dona da embarcação
foram citados na decisão judicial que autorizou o pedido de busca e apreensão
em escritórios no Rio de Janeiro. De acordo com os investigadores, 2,5
mil toneladas de óleo foram derramadas no oceano.
A proprietária do navio é a Delta Tankers, fundada em 2006,
mesmo ano de fabricação do navio. O G1 entrou em contato com a
empresa e aguarda um posicionamento.
De acordo com o delegado Agostinho Cascardo, a Marinha do
Brasil apurou que, em abril, o navio grego ficou retido nos Estados Unidos
durante 4 dias por causa de problemas no filtro de descarte da embarcação.
O petroleiro é do tipo Suezmax, e sua capacidade máxima é
1,1 milhão de barris. Considerando o valor atual de mercado do petróleo, o
carregamento vale cerca de US$ 66 milhões. As 2,5 mil toneladas que
vazaram na costa brasileira equivalem a quase três milhões de litros.
Rota do navio
Depois de sair do Porto de José, em 18 de julho, o
petroleiro Bouboulina chegou à Cidade do Cabo, na costa da África do Sul, em 9
de agosto. Ele navegou pela costa por menos de um dia, depois continuou a
jornada em direção ao estreito de Malaca, na Malásia.
Em 3 de setembro, chegou à costa da Malásia. Durante todo
este trajeto, o petroleiro estava com “Automatic Identification
System” (AIS) ligado.
Entre 3 e 13 de setembro, o navio Bouboulina transferiu a
carga para outra embarcação, no sistema “ship-to-ship”, com o AIS
desligado. A Kpler informou que a embarcação que recebeu a carga é
desconhecida.
Depois, o Bouboulina partiu rumo à Nigéria, para atracar no
terminal Qua Iboe, e carregou novamente no dia 20 de outubro, e agora navega rumo
à Balikpapan, na Indonésia.
Nome Bouboulina
Laskarina “Bouboulina” Pinotsis foi uma marinheira
grega que comandou diversos navios durante a guerra da independência da Grécia,
no século 19.
Bouboulina é considerada uma heroína de guerra e participou
ativamente do movimento pela independência do país, levando secretamente
carregamentos de munições e armamentos para os soldados, usando seus próprios
recursos.
Cronologia das investigações
- 30
de agosto – primeiras manchas – Surgem as primeiras manchas em
praias na Paraíba. - 2
de outubro – PF abre inquérito – A Polícia Federal do Rio Grande
do Norte abre inquérito para investigar a origem
das manchas de óleo encontradas em várias praias do Nordeste - 5
de outubro – Bolsonaro pede investigações – Jair
Bolsonaro pede investigações sobre as manchas e envolve PF,
Defesa, Ibama e o ICMBio. - 10
de outubro – 30 navios suspeitos – A Marinha diz que vai
notificar 30
navios-tanque de 10 diferentes bandeiras a prestarem esclarecimentos na
investigação. Análise da UFBA aponta que óleo
que atinge litoral do NE é produzido na Venezuela. - 14
de outubro – barris suspeitos – Após barris da Shell
serem encontrados em praias do Nordeste, a empresa
nega que tenha envolvimento no surgimento das manchas de
óleo. - 17
de outubro – modelos matemáticos – Marinha encontra
barris da Shell flutuando no oceano e coleta
material para análise. Com base em modelos matemáticos que
consideraram o surgimento das manchas e a dinâmica das correntezas,
pesquisadores da UFRJ apontaram que a provável
origem das manchas surgiu a 700 km da costa da Paraíba. - 22
de outubro – navios-fantasma – O comandante da
Marinha, almirante Ilques Barbosa Júnior, diz que a investigação estava
centrada em “dark ships”, navios que desligam o sistema de rastreamento.
No mesmo dia, ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto,
disse que as investigações buscavam navios que circularam entre 25
de agosto e 3 de setembro na costa brasileira. - 30
de outubro – manchas suspeitas – Duas pesquisas, uma da UFRJ e
outra da UFAL, apontaram a suspeita de uma mancha de 200 km² flutuando a
50 km da costa da Bahia. Para o pesquisador Humberto Barbosa, da Ufal, a
mancha poderia ter origem em um vazamento do pré-sal. A hipótese
foi descartada pela Marinha, Ibama e Petrobras.
Elida Oliveira, G1
Foto: Divulgação