Orçamento de 2020 prevê alta de R$ 24,2 bi em renúncias fiscais

Em meio ao crescimento de
despesas obrigatórias e à escassez de verbas discricionárias (não obrigatórias)
para a manutenção de órgãos públicos, as renúncias fiscais continuarão a
crescer no próximo ano. A proposta de Orçamento Geral da União, em tramitação
no Congresso, prevê que o governo deixará de arrecadar R$ 330,61 bilhões por
causa dos incentivos fiscais em 2020.

O valor representa alta de R$
24,21 bilhões em relação ao Orçamento de 2019, que destinava R$ 306,39 bilhões
em gastos tributários, nome dado quando o governo abre mão de receitas para
beneficiar setores econômicos. Os segmentos mais beneficiados em 2020 serão
comércio e serviço (R$ 86,93 bilhões), trabalho (R$ 42,28 bilhões) e saúde (R$
41,32 bilhões).

Mesmo com o encolhimento da
desoneração da folha de pagamento, que terminará em 2021, outros incentivos
continuam a crescer. Os principais crescimentos nas renúncias fiscais, de
acordo com a proposta de Orçamento, ocorrerão nas isenções e imunidades para
entidades sem fins lucrativos (+R$ 6,26 bilhões), na Zona Franca de Manaus (+R$
3,89 bilhões) e nas isenções de Imposto de Renda para pessoas físicas (+R$ 2.6
bilhões).

Em contrapartida, os gastos com
subsídios, quando o governo gasta dinheiro (direta ou indiretamente) para
conceder empréstimos a juros mais baixos ou reduzir preços ao consumidor,
cairão pelo quinto ano seguido. A proposta prevê que esse tipo de despesa
passará de R$ 69,8 bilhões no Orçamento deste ano para R$ 63,98 bilhões em
2020.

A margem do governo para cortar
os subsídios está emagrecendo a cada ano. O Orçamento de 2019 tinha reduzido os
subsídios em R$ 23 bilhões. Para 2020, no entanto, a queda será de R$ 5,82
bilhões.

Queda de juros

Nos últimos anos, o governo tem
conseguido cortar os subsídios por causa do fim do Programa de Sustentação do
Investimento (PSI), que emprestou cerca de R$ 400 bilhões de 2009 a 2015 por
meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com juros
reduzidos a empresas. Para o próximo ano, no entanto, a queda da taxa Selic,
atualmente em 5% ao ano pode fazer o governo desembolsar menos que o previsto
no Orçamento.

Destinados a cobrir a diferença
entre os juros de mercado e as taxas subsidiadas, os subsídios dividem-se em
dois tipos. Os subsídios financeiros ou explícitos, que consomem recursos
diretos do Orçamento, e os subsídios creditícios ou implícitos, em que o
Tesouro emite títulos da dívida pública para cobrir a diferença de juros.

Para o próximo ano, os subsídios
explícitos deverão somar R$ 35,59 bilhões, valor R$ 2,19 bilhões menor que o
destinado no Orçamento de 2019. Os subsídios implícitos totalizarão R$ 28,39
bilhões, redução de R$ 3,63 bilhões em relação ao Orçamento deste ano.

Plano

A Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) de 2020 estabeleceu que o governo tem de apresentar, no próximo ano, um
plano de revisão dos gastos tributários e dos subsídios, que atualmente
equivalem a 4,6% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços
produzidos). A equipe econômica terá de elaborar um cronograma de redução dos
benefícios fiscais, financeiros e creditícios de 0,5 ponto do PIB por ano até
2022.

A LDO de 2019 tinha proibido a
concessão de novos benefícios, restringido a renovação dos atuais pelo prazo
máximo de cinco anos e exigido a redução dos benefícios para até 2% do PIB até
2028.

Em abril, o Ministério da
Economia anunciou a criação de um comitê para discutir a revisão de todos os
gastos tributários, analisando a eficácia de cada política. O comitê, segundo a
pasta, apresentará um plano até o fim do ano. (André Carvalho-bahia.ba).

Foto: Marcello Casal/ Agência
Brasil