Colegiado discute “floresta plantada e a cadeia produtiva do eucalipto”

A força econômica do eucalipto, seu potencial e demandas, e
os desafios a serem enfrentados pelos produtores foram assuntos debatidos na
manhã desta terça-feira, 19, pela Comissão de Agricultura e Política Rural da
Assembleia Legislativa da Bahia, em audiência pública sobre a Floresta Plantada
e a Cadeia Produtiva do Eucalipto. 

O encontro foi “uma grade oportunidade” de dialogar com o
segmento que lidera as exportações na Bahia, emprega 234 mil pessoas e gera R$
14,2 bilhões. Segundo a presidente do colegiado, Jusmari Oliveira (PSD), a
reunião da manhã de hoje deu continuidade à proposta da Comissão de ouvir todos
os segmentos produtivos do agronegócio baiano, mas serviu, também, para
desmistificar o setor como alheio aos problemas ambientais que causa.

Defendendo os produtores, a deputada garantiu que eles têm,
sim, compromissos sociais e com o meio ambiente, “não raro são injustiçados” e
que precisam ser conhecidos. O diálogo, como a audiência pública permite, é o
caminho, apontou Jusmari.

INVESTIMENTOS

Um dos palestrantes do encontro, Wilson Andrade, diretor da
Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf), demonstrou a pujança
do setor que representa. A Bahia possui 657 mil hectares de plantações
florestais; 636 empresas; preserva 500 mil hectares e investiu R$ 728 milhões
no ano passado. Deste ano até 2024, os investimentos no setor devem ultrapassar
22 bilhões.

O eucalipto domina o cenário, ocupando 94% da área plantada
e liderando as exportações. Em 2018 o setor confirmou porque, historicamente, é
considerado um dos mais importantes da economia baiana ao responder por 18,4%
do total das exportações do estado. Foram R$ 1,62 bilhão alcançados com as
exportações, o que coloca o estado na quarta posição no ranking nacional de
cultivo da espécie. Aqui os níveis de produtividade médios das florestas de
eucalipto ultrapassam os 30 m³/ha ao ano. 

Mas o Brasil ainda tem uma exportação bastante tímida se
comparado com números internacionais. O mundo exporta US$ 350 bilhões em
madeira e o Brasil apenas US$ 12,5 bilhões, ou seja, 4% do volume mundial. A
demanda por madeira exige que até 2050 hajam 250 milhões de hectares plantados
adicionalmente no mundo.

Os números da Abaf são significativos. Segundo a associação,
o setor emprega na Bahia cerca de 234,5 mil pessoas; no ano passado contribuiu
com mais de 5% com o PIB estadual e a arrecadação tributária superou R$ 4
bilhões, o equivalente a 4,3% do total arrecadado em impostos federais,
estaduais e municipais. 

PRESERVAÇÃO

Há também as contribuições ambientais das florestas
plantadas na Bahia, frisou Wilson Andrade. Elas “evitam o desmatamento de
habitats naturais; protegem a biodiversidade; preservam o solo e as nascentes
dos rios; recuperam áreas degradadas; são fontes de energia renovável e contribuem
para a redução das emissões de gases causadores dos efeitos estufa”, garantiu o
diretor da Abaf.

Hoje 634 empresas de base florestal atuam na Bahia e
produzem derivados da madeira nos segmentos de celulose e papel, madeira sólida
e material energético. Esta produção corresponde a 7% do total nacional da
produção de madeira e a 15% da celulose gerada do país. O estado tem 744 mil ha
(65% do total) de áreas plantadas com certificação de sustentabilidade.

O Sul do estado concentra a grande maioria (cerca de 65%)
dos plantios florestais. O Litoral Norte abriga 23% da área plantada, o Oeste
fica com cerca de 6%, e 4% estão na região Sudoeste.

Um dos desafios que o setor deve enfrentar é a busca pelo
aumento na verticalização da cadeia produtiva. Para isso é necessário
incentivar a instalação de indústrias que beneficiem o eucalipto aqui mesmo na
Bahia, apontam os produtores, uma vez que, atualmente, cerca de 80% da madeira
consumida aqui ainda vem de outros estados.

O secretário executivo do Fórum Florestal da Bahia, entidade
que defende o diálogo florestal, reclamou dos “mitos do eucalipto”. Márcio
Braga discorreu sobre os acordos que o Fórum tem firmado em favor dos
produtores, que vão desde o fomento florestal até medidas de segurança nas
estradas. Dentre os programas geridos e executados pela entidade está o estudo
de evolução temporária da cobertura vegetal no Estado.

Por fim, a última palestrante da audiência de hoje, a
professora Gabriela Narezi expôs o projeto de pesquisa e extensão que dirige no
Sul da Bahia: Desenvolvimento Socioambiental para Agricultura Familiar. Doutora
em Ecologia Aplicada, Narezi coordena o Núcleo de Estudos em Agroecologia e
Produção Orgânica Pau-Brasil e anunciou a criação do curso de extensão rural no
âmbito da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).

É também no Sul que ela vem trabalhando e negociando com 350
famílias que se encontravam “em situação de conflito com a Veracel”. A pedido
da empresa ela vem realizando uma série de atividades e programas com a comunidade,
como, por exemplo, mediação na divisão dos lotes; diálogo socioeconômico e
vigilância da segurança alimentar. (Agencia Alba).

Foto: NeuzaMenezes/AgênciaALBA