CPMI das fake News: dono da Yacows diz que empresa fez campanha para Meirelles, Haddad e Bolsonaro

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga a
disseminação de informações falsas em redes sociais e por aplicativos de
mensagens, a CPMI das fake news , ouviu nesta 4ª feira, 19, o depoimento de
Lindolfo Antônio Alves Neto, um dos donos da Yacows, empresa que nas eleições
de 2018 trabalhou para diversos candidatos enviando mensagens em massa.

Lindolfo confirmou que a empresa fez campanha para o
candidato do MDB à Presidência da República, Henrique Meirelles, e que de forma
indireta trabalhou também nas campanhas de Fernando Haddad (PT) e do presidente
Jair Bolsonaro.

De acordo com ele, a campanha de Haddad usou uma plataforma
(Bulk Service) que pertence a Yacows, e a AM4, agência que trabalhava para
Bolsonaro, contratou a empresa para que fossem feitos 20 mil disparos de
mensagens.

Segundo ele, no entanto, a campanha do atual presidente só
disparou 900 mensagens.

Desmentindo Hans – Sem ter feito o juramento de que falaria
a verdade, Lindolfo desmentiu em três pontos o depoimento de Hans River dos
Rios Nascimento.

Na semana passada, o ex-funcionário da Yacows, que moveu
ação trabalhista contra a empresa, disse à CPMI que eram usados CPFs sem
consentimento dos titulares, ou mesmo de pessoas que já morreram, para que
fossem habilitados chips utilizados nos disparos pelo whatsapp.

“Nós desconhecemos esse procedimento operacional”, ele
disse, garantindo também que os chips eram habilitados pelas operadoras sem a
necessidade do documento.

Essa declaração contradiz também o que disseram à própria
Comissão os representantes das operadoras de telefonia.

Ele rebateu outra declaração dada por Hans River,
assegurando que desconhece uma lista com dados de pessoas maiores de 65 anos, e
que segundo o ex-funcionário era usada pela empresa.

Por fim, garantiu, em diversos momentos do depoimento, que
não tinha conhecimento do conteúdo das mensagens, ao contrário do que Hans
disse à Comissão.

Essa afirmação deixou irritados os parlamentares da
oposição.

Um deles chegou a perguntar que se a Yacows fosse contratada
para distribuir pornografia infantil, ela então enviaria as mensagens sem saber
o que estava distribuindo.

Não contribuiu – O senador Angelo Coronel (PSD-BA)
presidente da CPMI ficou muito insatisfeito com o depoimento de um dos sócios
da Yacows.

“Não contribuiu em nada para a CPI. Sempre foi evasivo em
suas respostas”, resumiu o presidente.

Como Lindolfo não fez juramento antes do depoimento, Angelo
Coronel não tem dúvida de que ele mentiu.

“Já está categorizado que ele não estava ali predisposto a
falar a verdade, tanto é que ficou saindo pela tangente”

Coronel também não está satisfeito com o teor dos
depoimentos dados a CPI quando o assunto são as fake News na política.

“Até então só se viu a parte técnica, nada concreto do que
foi feito de errado nas eleições passadas, quem usou mensagens em massa para
depreciar concorrentes. Esperamos que a relatora e a Polícia Federal cheguem a
algo concreto nas investigações, senão chegaremos ao final sem nada que venha a
somar no quesito eleições”, admitiu o senador.

Ele lembrou que ao menos a CPI já resultou em um Projeto de
Lei, de autoria dele próprio, que obriga as operadoras a habilitar celulares
pré-pagos somente com presença física do interessado.

Esse projeto ainda precisa ser aprovado.

Coronel alertou aos membros da CPI que requerimentos de
convocação precisam apontar se a pessoa virá como convidada ou testemunha

“Se no requerimento de hoje fosse colocado o Lindolfo como
testemunha, a situação seria outra. Porque se mentisse, seria preso. E ele
ficou à vontade, falou o que quis, ficou mudo e não somou nada. Do jeito que tá
aí, a pessoa pode mentir que não dá em nada”, desabafou Coronel.

O depoente ficou calado em algumas perguntas dos
parlamentares da oposição.

A CPMI volta agora a se reunir depois do carnaval, na 3ª
feira, dia 3.

Angelo Coronel quer colocar em votação 95 requerimentos,
entre eles os que convocam o vereador Carlos Bolsonaro e os ex-presidentes Lula
e Dilma. (Ascom).

Foto: DIvulgação/Ana Luisa de Souza