As cenas de pessoas trocando a roupa durante reuniões
compõem o exemplo mais grotesco do tumulto inicial que caracterizou o trabalho
remoto com o pipocar de atividades virtuais depois da pandemia da covid-19.
Colocados a circular de maneira jocosa nos aplicativos de mensagens, os vídeos
mostram o despreparo de muita gente para lidar com simples comandos de desligar
câmeras e microfones ao longo de uma transmissão.
Há, no entanto, questões de repercussão bem mais ampla em
torno de um modelo de expediente que vinha sendo adotado de maneira lenta e
difusa, mas que promete engatar quando vier “o novo normal”, isto é, com o fim,
ou pelo menos o arrefecimento, da ação do SARS-CoV-2.
O isolamento social decorrente da necessidade de evitar a
propagação desse coronavírus levou para o trabalho à distância um contingente
ainda não claramente contabilizado. Antes da pandemia, o IBGE anunciara, em
2018, um total de 3,8 milhões de pessoas trabalhando “no domicílio de
residência”. Elas foram entrevistadas para a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD), em sua versão “contínua”, mas os informes do IBGE à época
não deixaram claro a natureza das atividades que realizavam. Se uma gerente de
projetos pode ser classificada claramente no trabalho remoto, o mesmo não se
pode dizer de uma representante de vendas, cujo trabalho é externo, por
natureza. Na semana de 21 a 27 de junho, já no contexto da PNAD-Covid-19, o IBGE
estimou em 8,6 milhões o número de brasileiros que “trabalhavam remotamente”,
ou seja, 12,4% da população ocupada do país menos os afastados por causa do
distanciamento social (69,2 milhões).
A PNAD-Covid-19 teve início em 4 de maio de 2020 com
entrevistas realizadas por telefone em aproximadamente 48 mil domicílios por
semana, totalizando cerca de 193 mil residências por mês, em todo o território
nacional. A amostra é fixa, ou seja, os entrevistados no primeiro mês de coleta
de dados permanecerão na amostra nos meses subsequentes, até o fim do
levantamento.
Não há dúvida, portanto, de que a pandemia explicitou, pelo
menos em parte, as potencialidades das atividades laborais exercidas
remotamente (ver infográfico). Caberia agora às empresas e aos empregados
simplesmente aproveitarem ao máximo a economia de custos e as vantagens do
trabalho executado em horários e locais flexíveis? (Nelson Oliveira – Agencia Senado).
Foto: Divulgação/Agencia Senado