Esclerose múltipla: neurologista diz que pacientes precisam manter tratamento durante pandemia

Pelo menos 40 mil brasileiros convivem com a doença e já
confundiram os sintomas de esclerose múltipla (EM) com fadiga, segundo
estimativas do Ministério da Saúde. No mundo, são cerca de 2,5 milhões de
pacientes diagnosticados, que começaram apresentando perda de força,
formigamento, alteração do equilíbrio e da coordenação motora, alterações
visuais, disfunção intestinal e da bexiga. Sintomas que, sozinhos, podem
indicar diversas doenças, mas são também as primeiras manifestações da EM.

Ainda cercada de dúvidas – não se sabe exatamente quais suas
causas -, a esclerose é uma doença autoimune, ou seja, o próprio sistema
imunológico da pessoa ataca o sistema nervoso central, que interfere na
comunicação do cérebro com todo o corpo. O Dia Nacional de Conscientização
sobre a Esclerose Múltipla é 30 de agosto, mas o mês todo é dedicado a essa
doença inflamatória imunomediada desmielinizante e degenerativa do sistema
nervoso central (SNC) ? cérebro e medula espinhal.

Diante da pandemia da Covid-19, o neurologista Mateus
Rosário, da equipe de Neurologia do Hospital Cárdio Pulmonar (HCP), destaca a
importância da manutenção do tratamento e uso da medicação. “Os medicamentos de
uso contínuo devem ser mantidos, sendo restrita ao médico neurologista a
decisão de modificação ou suspensão de tratamentos (o que raramente ocorre).
Tal estratégia evita que a doença de base se agrave” explica.

Em relação ao novo coronavírus, o médico diz que não existem
muitos estudos sobre isso até então e ainda não há evidências de que os
portadores de EM tenham chance de contaminação ou de ter uma doença mais grave. “De um modo geral, os pacientes com sequelas neurológicas importantes podem
apresentar um quadro mais grave pela sequela em si”, explica.

Impulso elétrico

Para melhor entendimento sobre a Esclerose Múltipla, o
neurologista explica que nossos neurônios funcionam transmitindo impulsos
elétricos por todo o corpo. “Como um fio elétrico, essas células necessitam de
isolamento para melhor funcionamento. Esse isolamento é feito pela bainha de
mielina, que envolve o neurônio e promove esta função, portanto, o conceito de
destruição da bainha de mielina (desmielinização) e mal funcionamento do
sistema nervoso a partir de então”, observa.

A manifestação clínica mais comum da Esclerose Múltipla é
uma alteração neurológica que vem em surtos e em algum tempo melhoram, seguidas
de novos surtos (chamada forma surto-remissão).

As manifestações neurológicas são as mais variadas, desde
alterações da visão por inflamação do nervo óptico (neurite óptica), tontura,
desequilíbrio, fraqueza muscular, alterações de sensibilidade ou alterações no
controle dos esfíncteres (urinário e fecal). Existem formas mais graves na qual
não há remissão do quadro (chamadas formas progressivas) que têm
características mais graves.

Tratamento

O tratamento se diferencia diante de duas situações: a forma
aguda (o surto) e a prevenção de surtos. Durante os surtos, os pacientes são
avaliadas quanto à necessidade de uso de medicamentos, usualmente altas doses
de corticoide, para alívio dos sintomas agudos e prevenção de lesões
permanentes no sistema nervoso central.

“Os medicamentos preventivos (ou modificadores da doença)
buscam evitar lesões permanentes no sistema nervoso central e novos surtos e,
com isso, proporcionar melhor qualidade de vida para as pessoas portadoras da
doença”, afirma o especialista.

Tais medicamentos podem ser usados em forma de injeções
(intramuscular e subcutânea) – os interferons e o glatiramer; em infusões
venosas – os imunobiológicos; ou medicamentos por via oral.

“A decisão de qual via de administração será decidida entre
o médico e paciente avaliando-se o estágio da doença, as preferências pessoais
e disponibilidade de tratamentos”, explica o neurologista Mateus Rosário. (Texto e foto – Ascom).

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