O governo continua tentando mapear o estrago dos
desdobramentos da Operação Lava Jato no sistema financeiro e, consequentemente,
na economia. A presidente Dilma Rousseff convocou ontem com os presidentes do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho,
e do Banco do Brasil, Alexandre Abreu, para uma reunião no Palácio da Alvorada.
Também esteve no encontro o novo presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine.
Nenhum desses encontros apareceu na agenda oficial da
presidente, apenas com o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. Segundo
fontes, o encontro serviu para que os executivos negociassem um plano para
evitar o calote das empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato nos
pagamentos de financiamentos que já foram liberados.
Estima-se que a Petrobrás e as empresas tenham firmado
contratos com bancos públicos e privados avaliados em R$ 130 bilhões. Essa
estimativa foi feita por uma equipe liderada por Bendine quando ele ainda
estava à frente do Banco do Brasil.
Os presidentes dos bancos públicos e da estatal também
tentam evitar suspensão de operações de longo prazo, essenciais à sobrevida
financeira das empresas. Um dos casos emblemáticos das consequências da
Operação Lava Jato é a situação da Sete Brasil, empresa criada para gerenciar a
contratação de sondas para exploração do pré-sal pela Petrobrás. Segundo
relatos, na reunião foi discutida de que forma é possível chegar a uma solução
para que seja aprovado o financiamento de US$ 5 bilhões do BNDES, da Caixa e do
banco inglês UK Export Finance à companhia. Essa operação é considerada essencial
para que o Banco do Brasil possa aprovar um empréstimo-ponte de R$ 800 milhões
à empresa.
Exigências. O BNDES fez exigências, segundo informou o
Estado, que a Sete Brasil diz não poder atender: uma fiança bancária de US$ 1,5
bilhão, uma auditoria independente para averiguar os preços das sondas
contratadas e o uso integral dos recursos para pagar apenas o primeiro lote de
sondas, sete no total. Um dos presentes na reunião com a presidente Dilma
informou que as negociações envolvem um provável recuo nas exigências do banco
de fomento para a liberação do empréstimo.
O socorro à Sete Brasil é considerado prioritário e
emblemático pelo governo pelo envolvimento que a fornecedora da Petrobrás tem
com outras empresas. Assessores da presidente ressaltam que a operação é
importante para evitar um agravamento ainda maior da crise da indústria naval,
com impacto em toda a cadeia produtiva e na geração de empregos.
A Sete Brasil enfrenta dificuldades para conseguir recursos
e saldar as dívidas de curto prazo. A empresa, que tem como sócios os bancos
Bradesco, BTG Pactual, Santander, fundos de pensão de estatais, FI-FGTS (fundo
de investimento em infraestrutura gerido pela Caixa) e a própria Petrobrás, tem
a responsabilidade de construir 28 sondas de perfuração para a estatal. Do lado
político, o governo quer sinalizar que, apesar dos diversos problemas
envolvendo empresas ligadas à estatal, o setor de petróleo e gás [não pode
parar].
Dilma já tinha se reunido, em janeiro, com Coutinho e
Bendine ? quando o último ainda era o presidente do BB ? e pedido [empenho] na
solução da encruzilhada em que a Sete se envolveu. Pela configuração do
financiamento que estava sendo negociado, o BNDES ficaria responsável por
liberar US$ 3 bilhões, a Caixa por US$ 1,5 bilhão e o banco inglês UK Export
Finance, que financia exportações, com uma quantia inferior, em torno de US$
200 milhões.
Toda a negociação foi suspensa, porém, depois de a Sete
Brasil ter sido citada em um esquema de propina em depoimento de delação
premiada de Pedro José Barusco Filho, ex-gerente de engenharia da Petrobrás e
ex-diretor da fornecedora. (AE)
Foto: Ed FerreiraAE